domingo, 19 de outubro de 2008

Destruir Depois de Ler

Nem sempre é facil sobreviver ao sucesso dos Óscares - e se alguém o teve, recentemente, foram os Coen. A expectativa aumenta, a crítica torna-se mais acutilante, a margem de erro diminui e, pior, todos esperam um novo Este País Não é Para Velhos. Destrui Depois de Ler é, nesse aspecto - e talvez só nesse -, um filme inteligente. Já todos sabemos que o filme já estava em rodagem por alturas dos Óscares, mas não custa dizer que, pudessem os Coen ter programado e não teriam arranjado filme melhor. Destruir Depois de Ler é, nalguns pontos, a antítese do seu predecessor e, melhor, não tenta ser um novo filme candidato. É uma comédia sem qualquer pretensão, uma reunião de amigos a divertirem-se que parte de uma simples premissa. O mundo de hoje pode ser muito estúpido.
E, apesar disto tudo, Destruir Depois de Ler não está assim tão longe de Este País Não é Para Velhos. O segundo retrata uma América tripartida entre várias realidades que não sabem conviver - e não é curioso que hoje Josh Brolin interprete George W. Bush no filme de Oliver Stone? -, e o primeiro centra-se em como é fácil para as pessoas não se entenderem. O primeiro é absurdo e minimalista; o segundo é cruel e frio. Ambos vivem das personagens, ambos têm finais que contradizem o princípio mais antigo da tragédia grega, ambos são desencantados e desiludidos com o que o homem, na América, se tornou. Em Este País Não é Para Velhos temos uma América onde a violência é senhora, tornando-se impossível fugir dela. Em Destruir Depois de Ler temos uma América estupidificada, onde é demasiado fácil ser idiota. Quase parecem filmes feitos por europeus a retratar a América. Um retrata o que a Europa teme, o outro como a Europa os vê.
O que também não é fácil, nos dias que correm, é ver uma boa comédia. Isto, claro, partindo do pressuposto que nem todos somos como o americano típico que se pela por qualquer coisinha em que o nome Sandler ou Stiller apareça em tom Malucos-do-Riso-versão-Hollywood (não são esses, no fundo, que Brad Pitt retrata no filme?). Destruir Depois de Ler é uma muito boa comédia. É um filme menor, não há dúvidas. Mas é bem feito, bem construído, com um bom argumento e um estrondoso elenco. É feito por alguém que nunca pensou em fazer comédias, mas que tem um óptimo sentido de humor. E, para além disso, são óptimos realizadores. Notamo-lo no ritmo do filme, nas transições, na forma como ele se constroí. Deixa espaço às personagens - que bela direcção de actores - mas enquadra-os num projecto que, por si, sobrevive. Destruir Depois de Ler tem mesmo piada. Satiriza, mas consegue ser simples. Tem um sentido, enquanto cinema e enquanto humor. E, melhor, toma-nos por pessoas inteligentes. Nem sempre resulta, mas quando acontece é delicioso.
Uma terceira proeza dos irmãos Coen neste filme é a de juntar, tão naturalmente, um elenco tão rico (dar à palavra o sentido que se entender). Malkovich é notável no papel de ex-agente da CIA, alcoólico e demitido, cujas memórias originam toda esta confusão. Um idiota, magistralmente construído por Brad Pitt, tem acesso às suas memórias e desencadeia uma enorme confusão, secundado pela Britney-wannabe Frances McDormand. George Clooney vira esquizofrénico com delírios persecutórios e, para preencher o ramalhete, Tilda Swinton também participa. O que todos eles conseguem, no seu jeito profundamente idiota e desengonçado, é divertir-se, divertir-nos e confundir toda a gente. Há muito tempo que um filme não acabava tão bem. Para quem não queria fazer um grande filme, os irmãos Coen não se sairam nada mal.
Título: Destruir Depois de Ler
Realizador: Ethan Coen e Joel Coen
Elenco: Brad Pitt, George Clooney, John Malkovich, Tilda Swinton, Richard Jenkins e Frances McDormand.
E.U.A., 2008.
Nota: 7/10

1 comentário:

Anónimo disse...

o que penso e que a europa teme apenas a america estupidificada. sao esses os mais provaveis genocidas, já que devido a serem analfabetos torna se mais certa uma aliteração a columbine, entre outros crimes a favor da humanidade. Já agora, parabens blogger pela abertura do expediente intelectual nacional. Te demos graças.