quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Magnífico Material Inútil


No princípio, era a novidade. Finalmente alguém tinha a ousadia de fazer bom Rock em Portugal. Em português. Parecia infâmia. Depois veio o hype, como se previa. A loucura indie de quem descobre um brinquedo novo. E ainda por cima bom e a funcionar. Corriam trocas de ficheiros, visitava-se o MySpace, ouvia-se na Radar, multiplicavam-se os comentários em blogs. Os Strokes tinham chegado a Portugal, ouvido um pouco do Rock que por cá se fazia nos anos 80 - sim, já se tinha feito Rock em Portugal - e recriado tudo isso à luz de uma geração - como dizê-lo de uma forma moderna? - pós-subúrbios - what the fuck does that even mean?. Até que chegamos a Magnífico Material Inútil.
A prova do álbum é sempre um exame de difícil passagem com distinção e, de ano para ano, as rasteiras sucedem-se. Deviam ter feito exames de anos anteriores. Os erros são clássicos. Procurou-se um som mais unificado, mais coeso do que a amálgama de músicas soltas que preenchiam o EP anterior. Perdeu-se, como é costume, alguma da força, do ímpeto, que maravilhava nessas mesmas músicas, como "Inês". Mas, do mal o menos, conseguiu-se, de facto, a tal unidade que se pretendia. Um álbum. E um punhado de novas músicas de grande qualidade.
O formato é o mesmo. Strokes, White Stripes, pitada de misturada de oldies - Stones à cabeça -, e depois juntar com o melhor dos nossos saudosos 80's - alguém falava nos Taxi. O conteúdo também, felizmente. Não são demasiado sérios, não nos chateiam, não têm dor de corno sofrida em tom lânguido e insuportável. Falam como nós, divertem-se como nós, são naturais e vulgarmente bastante idiotas como nós. E ouvem o mesmo que nós, aparentemente. "Conto de Fadas de Sintra a Lisboa" foi o primeiro passaporte para a comercialização industrial, mas é em retoques individuais que se manifestam melhor - vide o "Querida", "Tempos de Glória" ou o final de "Armada de Pau". Continuam intactos e iguais ao que eram antes. E ainda bem.
Título: Magnífico Material Inútil
Autor: Os Pontos Negros
Nota: 7/10

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