domingo, 18 de novembro de 2007

Gangster Americano


Do realizador de Gladiador, Ridley Scott, chega agora aos cinemas o mais recente filme sobre o sub-mundo gangster americano, nem de propósito com o nome Gangster Americano. Scott é, por natureza, um realizador de baixo risco, sempre certinho, fiel à linha de montagem e de produção, sempre capaz de executar qualquer tarefa em bom tom, mas sem grande brilho ou genialidade. É uma imagem de marca à qual Gangster Americano não foge. Muito comparado, em toada, ao citado Gladiador, a verdade é que este novo filme sobre os meandros da máfia da droga cumpre os mesmos requisitos mínimos e volta a não convencer por completo.

Reparemos que Gangster Americano se toca, em muitos pontos, com The Departed de Scorsese. Salvo as inúmeras diferenças, ambos se resumem, numa sinopse arriscada, a um enredo que usa um mafioso e um policia para explorar esses dois meios e a forma como esses dois mundos, aparentemente opostos, se cruzam e reproduzem. Nunca, em Gangster Americano, temos uma visão de autor tão nítida, e tão bem conseguida, como em Departed. Fica a sensação permanente de que tudo não passa de uma obrigação em contar esta história. Muito profissionalismo mas pouco charme.

Charme, aliás, é coisa que não falta a Denzel Washington, espécie de Padrinho do Harlem, numa versão maléfica que raramente lhe vemos. Talvez por isso nunca consigamos odiar este mafioso, mal intencionado, obstinado, ganancioso, calculista e raramente escrupuloso. Denzel Washington não é, não pode ser, uma má pessoa. Por um lado, isso impede-nos de estabelecer preconceitos, inviabilizando uma separação clara e linear entre bem e mal. Sabemos que o bom é bom e sabemos que o mau é mau. Mas o mau parece tão bom, que somos forçados a relativizar tudo.

Se Denzel Washington é Frank Lucas, o Padrinho do Harlem que subiu na vida a pulso, Russel Crowe é Richie Roberts, um policia pouco convencional mas, talvez por isso mesmo, honesto. Roberts embarca numa expurga contra o mundo da droga que é obrigada a passar pelo seio da policia. Lucas é um antigo motorista que aproveita a oportunidade e se transforma no centro do tráfico de droga norte-americano. Há uma inegável – e por vezes demasiado notória – semelhança entre estes dois homens, ainda que aparentemente se encontrem em campos totalmente opostos, que conflui para o seu aproximar no final da história.

Gangster Americano, infelizmente, não vai ficar para a história como mais um grande filme do género. Não é Goodfellas nem Departed, ou muito menos O Padrinho. É uma grande reconstituição histórica da América dos anos 70, duas boas interpretações de dois bons actores e um punhado de bons momentos sustentados por uma história razoável. Para aspirar à galeria falta-lhe o toque de Midas que Ridley Scott não se permite dar e sobram as boas intenções. Demasiado boas intenções, de que o inferno está cheio, mas a máfia não.

Título: Gangster Americano
Realizador: Ridley Scott
Elenco: Denzel Washington, Russell Crowe, Chiwetel Ejiofor, Josh Brolin e Carla Gugino
E.U.A., 2007

Nota: 6/10

1 comentário:

B. disse...

Tenho de admitir que não esperava.

Para mim, do que se viu até agora, é de longe o melhor filme do ano, deixando para trás filmes "certinhos" como a grande "Zodiac" do Fincher.

Ridley Scott fez o "Blade Runner", e acho que nesse filme percebe-se bem o quanto ele arrisca, sim o "Gladiador" não passa de um épico "jeitosinho", mas acho injusta essa apreciação.

Ligar ao "Departed" acho que é um esforço, como que a ligar à temática,e por ser recente.

O Denzel, está fantástico, e mau é que ele é bom, tal como vimos no "Training Day", onde até foi galardoado.

Quanto ao filme, é longo, mas tão bom, que em ponto algum cansa, é um filme com tudo bem feito. Pior realizado que o "Zodiac", mas com um poder completamente noutra escala. As interpretações estão brutais, em qualquer um, e a resolução dos personagens, fantásticos.

Diálogos que arrepiam, como aquele entre o Denzel e o Russel na mesa com os cafés. Simplesmente fantástico.

O filme não se fica para a história, é cedo para dizer isso, sempre houve surpresas nesse aspecto, se vivessemos nos anos 40, havia muito filme, que não davamos nada, e que hoje em dia são obras de referência.

Ficando ou não, é um filme que dava um 8 sem espinhas. Considero uma força brutal, sequências fantásticas que mostram toda a força que um filme de gangsters precisa ter. Tudo, dentro de uma verosimilhança, que é facil encontrar numa história baseada em factos verídicos.

Gostei de tudo no filme, não consigo apontar nada de mau, mesmo que embirre com o Russel Crowe, tenho de admitir, que ele está muito bom, num papel muito complicado de fazer, porque o Denzel, é o gangster, é "fixe"...

Vê o filme outra vez, dá-lhe essa oportunidade.