terça-feira, 23 de outubro de 2007

Dreams in Colour

No principio era a fama, o despertar de corações adolescentes, as emoções ao rubro, quando os Silence 4 veio provar que era possível pôr o público jovem a ouvir música portuguesa em massa. Boa música portuguesa. Depois foram os dois primeiros álbuns a solo, meio a cortar as amarras do passado, que insistiam em ver nele o compositor da banda de Leiria, meio a desbravar o caminho desconhecido da sua futura carreira. Pelo meio, um trabalho memorável de homenagem póstuma a Variações, em Humanos. Tudo isso está para trás. Quem aqui se apresenta é David Fonseca, compositor à muito tempo a solo, dono e senhor de uma carreira cada vez mais consolidada e candidato sério a melhor músico Pop português.

Dreams in Colour, o seu mais recente trabalho, é mais um trabalho prazenteiro – porque se nota, efectivamente, o prazer que o autor teve ao compor o disco – do que sequência lógica dos seus trabalhos anteriores. É, obviamente, consequência e maturação dos trabalhos anteriores, em especial o último Our Hearts Will Beat as One, mas há menos a ideia de que existe uma união sonora entre todo o disco. Há mais variedade, mais heterogenia, em Dreams in Colour, e isso é, ao contrário do que alguns podiam esperar, um ponto positivo. Aliás, esse sempre foi um dos pontos fortes dos seus álbuns. Temas que fugissem um pouco ao rumo e nos prendessem. Tal como “The 80’s” em Sing me Something New.

Aqui não se conhecem temas centrífugos, simplesmente porque não há nenhuma força que prenda o cd em torno de um eixo. Ele é livre. E, como tal, é um apanhado de momentos e emoções de David Fonseca. É nesta espécie de Shuffle criativo que apanhamos o melhor dele. Só assim temos direito a todo um festival de influências musicais que pairam, com maior ou menor significado, em Dreams in Colour. Umas fazem-se ouvir pontualmente nalguma música, outras, como é o caso de “Rocketman”, são homenagem descarada.

“4th Chance” é selo de assinatura, a música Pop a que David Fonseca sempre nos habituou e que marcam aquilo que um artista tem de melhor e de mais perigoso, uma identidade. Mas, felizmente, essa identidade não se esgota e prolonga-se para caminhos mais interiores, como em “Kiss me, Oh Kiss me”, que puxa aqui e ali a um lado Ryan Adams do cantor. Tal como “This Wind, Temptation” puxa a Arcade Fire. Ou o assobio de “Superstars II”, single de apresentação que roda ininterruptamente nas rádios portuguesas, nos remete para os suecos de “Writer’s Block”. A questão é que tudo isto, neste contexto, soa bastante bem. Que não haja dúvidas da qualidade deste candidato a rei da música mainstream portuguesa. Por agora, o trono é seu.

Título: Dreams in Colour
Autor: David Fonseca

Nota: 7/10

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