sábado, 12 de julho de 2008

[Rec]


Todos sabemos que o método não é novo. Blair Witch Project é o caso paradigmático que provou que tudo isto era possível, mas desde aí já se correram alguns anos e agora, talvez mais do que nunca, a moda parece ter pegado. Esta moda de filmar filmando, criando uma paralelismo e uma proximidade entre as personagens e o público, que vão vivendo as mesmas situações. Porquê? Porquê Cloverfield, Diário dos Mortos e [Rec]? O cinema percebe que há mais terror na vida real do que na sua ficção. O 11 de Setembro foi transmitido na televisão e difundido pela net. A luta pós-11/09 também, com a invasão do Iraque a ser divulgada em todo o lado. O próprio clima de terror generalizado, de estigmatização da cultura e da figura muçulmana dividiu-se entre a televisão e câmara privada. Este é o terror de hoje. Onde o monstro está ao lado e a forma de o mostrar é uma câmara. O cinema, como sempre, transforma a realidade.
Como em todas as modas, há quem o faça bem e quem o faça mal. Balagueró e Plaza fazem-no bem - e os vários prémios que [Rec] acumulou garante-o. Fogem ao protótipo e aos esquemas habituais do filme de terror - aqui não casos de amor, adolescentes histéricos ou mensagens de esperança subliminares. Não há uma analogia gratuita, não há o bem a combater o mal, há apenas a realidade, fugindo-se, felizmente, à tendência generalizada da explicação textual e precoce do mal. Blair Witch Project, Cloverfield e Diário dos Mortos fazem a apologia do filme caseiro. [Rec] vai mais longe e percebe que o verdadeiro fazedor de opiniões não é o indivíduo, é a multidão, e usa o seu meio favorito, a televisão.
Uma reporter de um programa nocturno segue os passos de uma companhia de bombeiros durante uma noite e vê-se envolvida numa estranha situação numa velha residência, onde algo parece transformar os seus residentes numa espécie de zombies (vide George Romero). A mensagem de [Rec] parece às vezes ser clara e nesses momentos é bela e representa o melhor dos filmes de terror. O monstro pode estar ao nosso lado, ser nosso conhecido, mas ser "contaminado". É esta contaminação que o filme interpreta bem, remetendo-nos de novo para o medo do vizinho que o terror pós 11/09 trouxe. A sobrevivente de tudo isto, como de todos os conflitos, é só uma. A câmara.
Título: [Rec]
Realizador: Jaume Balagueró e Paco Plaza
Elenco: Manuela Velasco, Javier Botet, Manuel Bronchud e Martha Carbonell
Espanha, 2007.
Nota: 6/10

1 comentário:

Anónimo disse...

amo manuela velasco, vi peça com ela dirigida por celso cleto em espanha.