segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Graduation


Todos sabem a história, mas nunca é demais reavivá-la. 50 Cent tem o ego do tamanho do génio de Kany West, mas quer, à força como lhe é característico, tomar de assalto o reinado do Hip-Hop. Kanye West, quando confrontado com a situação, simplesmente ignorou-o, lembrando que, a haver competição, essa seria com Justin Timberlake, o que não deixa de ser curioso e, de um certo modo, verdade. 50 Cent, sempre de arma em punho, disparou que não voltaria a editar nenhum cd se o seu Curtis não vendesse mais que Graduation de Kanye West. Tiro no pé. Lançados ambos a 11 de Setembro, 8 dias depois os números eram claros. Graduation vendia 957 mil cópias enquanto Curtis não chegava às 700 mil. Encenação comercial aparte, resta-nos agora rezar para que 50 Cent seja um homem de palavra.

Mas dos fracos não reza a história, diz o povo, sempre sabido. A história da música falará, com alguma confiança, de Kanye West. Género de ascenção meteórica, como quase tudo, o Hip-Hop viu chegar a década de 90 com ambição desmedida e parecia infindável o filão de novidades bem sucedidas, comercial e musicalmente. Mas, diz também o mesmo povo, que quanto mais alto se sobe, mais alta a queda. Certamente que o povo se referia ao marasmo em que encontrávamos o Hip-Hop no principio do século. E em que, no fundo, ainda o encontramos. É aí que entra em cena Kanye West. Messias ou simplesmente profeta, a verdade é que West trouxe uma nova atitude, uma nova abordagem, um caminho, uma saída para extinção de ideias em que caíra o Hip-Hop, invariavelmente caído em picardias arrogantes e rimas de arma em punho.

Kanye West, quer em The College Dropout quer em Late Registration, é um dedo apontado no sentido do futuro. Remisturas e releituras, referências e homenagens, mistura incessante de géneros, estas são as linhas com que cose os seus álbuns, onde o Hip-Hop não é mais que a linha que une os tecidos outrora desavindos. Nele se fundem o lado instantâneo da Pop com o sentido rítmico da Electrónica. Nunca a música foi tanta variedade compilada. Bem compilada, melhor dizendo. E se em The College Dropout tudo isso é visível, em Late Registration é visível e premente, o que faz do álbum uma das maiores referências do Hip-Hop actual.

Assumamos, a priori, que Graduation não é da qualidade de Late Registration, para que mais facilmente percebamos a situação. Mas, o que isto significa, é tão somente que Graduation não é um álbum genial, apenas um bom álbum, o que, verdade seja dita, não soa nada mal. Nem mesmo os grandes génios compõem apenas obras geniais. Graduation volta a trazer a marca que Kanye West quer impor no Hip-Hop. Fundo Hip-Hop que permite recriações e uma composição variada e a revelar excelente bom gosto musical, tudo com um piscar de olhos, nem sempre subtil, ao mundo da música Pop. Desaparecem os skits, mantêm-se os samples e surgem algums participações, nomeadamente de Chris Martin, Mos Deff, Pharrell Williams ou Lupe Fiasco.

A grande diferença entre Graduation e Late Registration é que o primeiro é feito de ocasionais momentos de brilhantismo, enquanto o segundo se pauta por um registo constante e sempre de nível superior. Graduation tem momentos muito altos, mas músicas como “I Wonder” não permitem que a toada se mantenha. Existem, isso sim, picos, especialmente na recriação de outras músicas, onde Kanye West é rei e senhor, seja a brincar com o seu próprio reportório, como em “Good Morning”, ou com o dos outros, como a daftpunkiana “Stronger” Ficam, assim, grandes temas, como os já citados, ou como “Big Brother” e “Homecoming”, este último com participação de Chris Martin. Kanye West, o rei do Hip-Hop. The King is Alive.

Título: Graduation
Autor: Kanye West

Nota: 7/10

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