sábado, 26 de setembro de 2009

Pânico em Hollywood


Pânico em Hollywood é um filme essencialmente irónico. Não que o tente. Para amostra, é uma falsa comédia (digamos antes um filme bem disposto) de denúncia e exposição do mercantilismo em que o cinema de hoje se tornou. De Niro é o produtor enrascado, pressionado por todos os lados. Pelo casamento falhado, pelas produtoras de quem é refém, pelas estrelas de quem depende. No cruzamento de todos os interesses está o produtor. É sintomático que, hoje, quando se faz um filme sobre Hollywood, a personagem principal seja o produtor. Já não é o actor, preso ao papel de estrela manietada, nem o realizador, espécie de último bastião de uma pretensa integridade artística. É o produtor. Porque Hollywood, na maioria, tornou-se um mercado de personagens como a de De Niro. Mediadores. Entre os egos das estrelas, a vontade dos realizadores e o desejo do público. Com um único objectivo. Lucrar. Fazer o máximo de dinheiro possível.
É como, se à partida, tudo estivesse viciado. A produtora organiza uma sessão experimental com vários expectadores representativos da população comum e através das opiniões destes reformula o filme, redesenha-o, pole uma ou outra aresta para que o objecto (supostamente) artístico fique mais apetecível aos olhos de quem come. Para além disso, o próprio existir do filme está condicionado à produtora em si, aos seus desígnios para o filme e ao tipo de filme que ela deseja. Contratam-se filmes-tipo, com estrelas de cartaz. Encomendam-se filmes por época, como as estações na moda. Isto é o melhor do filme de Levinson que, ainda que dito em tom ligeiro e mascarado com a desinteressante vida pessoal do produtor De Niro, é das melhores críticas que Hollywood recebe nos últimos tempos. É curioso que seja uma auto-crítica, aquilo em que o cinema americano já foi mestre mas lentamente tem vindo a perder. Ainda assim, não pode deixar de ficar na boca um sabor a pouco. É a tal ironia de que alguém falava em cima. Pânico em Hollywood podia ir tão mais longe, ser tão mais arrojado e incisivo. Mas não pode. Tem de vender, acima de tudo. E isso, parecendo que não, restringe.
Daí que tudo o resto que foge a esta matriz base seja, subterfúgios com maior ou menor interesse. Com maior interesse, talvez os cameos de Bruce Willis e Sean Penn, especialmente o primeiro, que tornam alguns momentos mais interessantes. Com menor interesse, toda a vida pessoal de um produtor stressado que tem conflitos conjugais, amantes e que leva as filhas á escola. Há sempre algo a mais em 80% dos filmes que nos trazem de LA. É esta necessidade imperiosa de entreter sempre mais um bocado, que acaba por desvirtuar a ideia de base do filme, que Pânico em Hollywood revela mas de que também é vitima. Quem parece juntar tudo isto é De Niro, o elo comum a tudo o que se passa. Mas, no fundo, é mais o produtor de De Niro do que De Niro, o produtor.
Título: Pânico em Hollywood
Realizador: Barry Levinson
Elenco: Robert De Niro, Bruce Willis, Sean Penn, Robin Wright Penn, Catherine Keener, Stanley Tucci e John Turturro
E.U.A., 2008.
Nota: 6/10

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