domingo, 23 de novembro de 2008

Paris


Paris é exactamente aquilo que se esperava que fosse. Um filme francês - no título, na paisagem e no fazer - que encorre nos erros a que se predispunha e que consegue trazer um pouco da beleza a que aspirávamos. Cédric Klapisch, o realizador do consagrado Residência Espanhola e do seu sucessor As Bonecas Russas, consegue em Paris mais um exercício do que um filme. Dos filmes que o celebraram - e em especial, claro, de Residência Espanhola - Paris mantém Romain Duris e a vontade de celebrar a vida, no seu aspecto mais humano. As pessoas.
O que não mantém de Residência Espanhola é o enquadramento de tudo isso. Paris constroí-se no formato mosaico-manta-de-retalhos, com as personagens a cruzarem-se inadvertidamente enquanto seguimos as suas vidas. O formato é útil mas está algo gasto - já nem nos atrevemos a referir como a vida mudou depois de Magnolia, nem a citar, mais uma vez, todos os filmes que entretanto se construíram neste formato, mesmo no cinema francês. As vantagens de o fazer são sobejamente conhecidas. As desvantagens, ao que parece, ainda não. Paris torna-se descosido e nem a sua beleza - porque a tem, quer nos diálogos quer nas pessoas que constroí - nos chega para abafar alguma sensação de vazio.
Romain Duris, um dos mais talentosos actores franceses da sua geração, intepreta um jovem bailarino que descobre uma fatal doença no coração. Ligeiramente cliché, mas ainda assim bem operada, esta descoberta faz com que comece a olhar para a sua vida e a dos outros com outros olhos. É este olhar para a vida dos outros que nos interessa e é dele que nos servimos como ponto de partida para as várias personagens que por nós desfilam. A sua irmã, interpretada pela estonteante Juliette Binoche, vive no medo de não conseguir refazer a sua vida enquanto cria duas crianças. Nasce daqui um dos principais, e melhores, contrastes. Duris a querer viver a vida e a não poder, enquanto ensina Binoche a fazê-lo. E há ainda um professor de literatura que se encontra perdido mas fascinado com uma aluna bastante mais nova; o seu irmão, que se confronta com a sua preocupante normalidade; ou um merceeiro que lentamente consegue vencer o luto pela sua mulher.
Tudo isto resulta em alguns - menos do que o expectável - momentos de boa beleza e de alguma ternura. Nalguma opções, Klapisch opta mesmo por mostrar o lado mais humano das personagens e torná-las mais pessoas e menos personagens - como na fabulosa e ridicula dança de Luchini. Mas, no geral, isso não chega. Resta-nos saborear Duris, Binoche e ainda Fabrice Luchini, perfeitamente adoráveis. A banda sonora relembra-nos o Tiersen d'O Fabuloso Destino de Amélie mas, e já que falamos nele, talvez seja um pouco da originalidade que por aí congregava tudo que aqui falte. Paris é um retrato infiel, mas que em alguma pinceladas nos mostra um quadro que poderia ter sido. Não é esta a cidade que verdadeiramente amamos.
Título: Paris
Realizador: Cédric Klapisch
Elenco: Juliette Binoche, Romain Duris, Fabrice Luchini, Albert Dupontel, François Cluzet, Karin Viard, Gilles Lellouche, Mélanie Laurent, Zinedine Soualem
França, 2008.
Nota: 6/10

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