domingo, 8 de julho de 2007

Woke on a whaleheart


O nome Bill Callahan poderá não soar reconhecido para muitos, mas se nele reconhecerem a voz por trás do projecto (smog), talvez tudo se comece a iluminar um pouco. Bill Callahan é então um desses cada vez mais raros personagens, em vias de extinção face a esta versão movimentada e instantânea da sociedade musical, os cantautores. Os originais. Lentos, melódicos, harmónicos, melancólicos e tristes. Bem, talvez tiremos a tristeza a este novo Bill Callahan. A culpa: Joanna Newson.

Um cantautor norte-americano, recentemente apaixonado e de bem com a vida, que após 12 discos escondido na sombra de um projecto, decide dar finalmente a cara. Esperar-se-ia talvez um sermão à volta da lareira, sobre as vicissitudes e injustiças da vida e sobre o predomínio do amor. Nada disso. Bill Callahan parece, de facto, mais maduro. Este será, sem dúvida, um trabalho mais pessoal, não apenas pelo nome com que se apresenta, mas porque este é claramente o resultado de anos de experiência musical que nele se tornam compêndio. Mas este não é um álbum sobre a experiência.

É, paradoxalmente, um álbum sobre o momento. Um álbum sobre as pequenas coisas, sobre o quotidiano, sobre o quanto este, por vezes, pode ser delicioso. Musicalmente, este é também um álbum ligeiramente diferente daquilo a que Callahan nos habituou. Não tão preso à herança Folk-Country que o celebrizou, mas da qual nunca se consegue abstrair, surge mais liberto, com lampejos Pop e, sempre, melodias onde a voz, característica como poucas, é o seu principal instrumento. Dos mais sagrados e profundos nomes da raiz americana, entre Johnny Cash, Bob Dylan ou Will Oldham, Bill Calahan é mais um a acrescentar.

Woke on a whaleheart, o disco de que se fala, abre com “From the rivers to the oceans” e corre, mas sem pressas, para uma “A man needs a woman or a man to be a man” muito à la Cash. É assim este trabalho. Para ouvir de enfiada. Mas que não se pense que, pelo meio, é tudo farinha do mesmo saco. No ouvido (e na cabeça) ficam especialmente “Diamond Dancer”, o single que apresenta o álbum e “Night”, momento alto de intimismo e paz interior. E, claro, “Sycamore”, o melhor deste Woke on a whaleheart. O amadurecimento sobre a forma de conjugação musical, onde a Pop encontra o caminho do Country. Em paz. Mas este é um disco para ser ouvido e não comentado. Ou, como canta Bill Callahan: “Well, I could tell you about the river…or we could just get in". Sem mais conversas.

Título: Woke on a whaleheart
Autor: Bill Callahan

Nota: 7/10

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