terça-feira, 10 de junho de 2008

35mm #7 - Non


"Terrível palavra é um Non."
Pe. António Vieira
Bem vincada como obra de autor, com o cunho muito próprio de Manoel de Oliveira, Non, ou A vã Glória de mandar é um filme de 1990, filmado entre Portugal e Senegal, apresentado em França, por altura do festival de Cannes. E se a crítica europeia, fascinada com a perspectiva de uma visão portuguesa por um português apartir das suas derrotas, acolheu bem o filme (Prémio Especial da Crítica Internacional desse ano, tendo Manoel de Oliveira sido alvo de uma homenagem especial por parte do juri, ele que este ano foi homenageado pelo mesmo festival), a verdade é que o público português continuou fugido da obra do seu realizador mais conceituado.
Non, ou a vã glória de mandar é um filme cuja intriga remonta a 1974. Em África, um batalhão português combate na Guerra Colonial e, quer para animar e distrair as suas tropas, quer para se entreter a si próprio, o tenente Cabrita vai contando pormenores da história de Portugal aos seus soldados. Correm-se assim, através de saltos espaço-temporais, pormenores interessantes como a história de Viriato, as tentativas de unir Portugal e Espanha, a batalha de Alcácer-Quibir ou uma recriação da Ilha dos Amores de Camões.
Por entre todo este Drama/Documentário, vai-se percebendo o tom moralista com que Manoel Oliveira embebe o filme e a analogia entre toda a história de sede de conquista e a Guerra Colonial que aqueles próprios soldados vivem. Esta última faceta do filme é bem expressa na batalha de Álcacer-Quibir (seguramente, uma das maiores e mais bem caracterizadas cenas de todo o cinema português) onde se antecipa o fim inglório da luta que se vive enquanto aquela história se conta. Todo o filme é envolto por esta mística pessimista, onde Portugal sempre acaba penalizado por uma sede irracional de poder.
Apesar do seu cunho pessoal em matéria de pormenores de qualidade, Non, ou a vã glória de mandar conta também com o pior (que é, para muitos e em muitos momentos, o melhor) de Manoel de Oliveira. Perdida qualquer noção de realismo, Oliveira envereda por um caminho sem retorno desde o princípio do filme onde prefere a teatralidade. Ao ver o filme tem-se a clara impressão de se estar a assistir a uma peça de teatro filmada. E se esta característica lhe favorece em alguns planos, retira-lhe todo o interesse que uma peça de vasto interesse poderia ter. Expoente máximo de tudo isto, é a cena do cavaleiro suicída protagonizada por Ruy de Carvalho. Especial atenção para o brilhante trabalho de Luis Miguel Cintra no papel principal, ele que foi galardoado recentemente com o prémio da latinidade 2008.
Título: Non, ou A vã glória de mandar
Realizador: Manoel de Oliveira
Elenco: Luis Miguel Cintra, Diogo Dória, António Sequeira Lopes, Miguel Guilherme, Luis Lopes, Carlos Gomes, Ruy de Carvalho, Mateus Lorena, Luis Mascarenhas e Catarina Furtado.
Portugal, 1990
Nota: 7/10

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