domingo, 22 de março de 2009

Religulous


Pode-se dizer de Bill Maher, com este seu Religulous, sensivelmente o mesmo que se dizia de Michael Moore. Enquanto documentário, Religulous é enviesado, oportunista e pouco justo para si mesmo e para o tema que aborda. Mas nem por isso é menos bom. Bill Maher é um cómico, e dos bons, e por isso mesmo o seu documentário, comparativamente, é mais cáustico e humilhante. Michael Moore não será propriamente menos manipulador, mas confere um toque de seriedade ao tema, e à sua abordagem, que o tornam mais credível. Maher, que se debruça sobre a religião, os seus dogmas e fundamentalismos, perde as suas reflexões no chorrilho de piadas que vai criando à volta das personagens que encontra. Mas Maher não tem pretensões de revisão cientifica, teológica ou dialéctica sobre o tema da religião. Tudo o que pretende é expôr o ridiculo de algumas doutrinas e a cegueira com que alguns a seguem. Não é uma abordagem séria. Mas, e daí, a de alguma religiões também não. Depois, por vezes, Maher tenta levantar o véu a temas mais sérios - como o fundamentalismo homicida ou a questão de Jerusalem - mas aí é sempre demasiado superficial. E, se isso resulta em temas menores, é insuficiente quando se tenta falar a sério. Bill Maher é óptimo a fazer-nos rir e consegue ser um bom pregador da dúvida - nunca confundir agnosticismo com ateísmo - mas esgota rápido a capacidade de argumentar sem uma piada nem o tenta contra um opositor que mereça o epíteto.
O melhor de Religulous, e também o mais cómico, é a denúncia do ridiculo. Bill Maher correr o mundo e alguns dos locais mais relevantes de várias religiões e encontra diversas personagens que lhe servem bem o propósito. Ridiculamente básicas no fundamentalismo cego com que seguem o seu credo. Ou na forma como exploram o credo dos outros. Como documentário religioso, o outro - o sério - talvez fosse mais interessante, mas este é claramente mais importante - e cómico, tamanhas são as personagens. Tudo é explorado ainda por Larry Charles - conhecido de Seinfeld a Borat - que se mostra também um mestre na manipulação da imagem. Legendas satíricas e o saber o exacto momento em que cortar a cena fazem parte dos truques. Nada passa, no entanto, de um grande documentário televisivo. Nada de cinema. Só um documentário cómico, bem feito, para ser passado numa qualquer cadeia de cabo norte-americana. Rimo-nos com vontade. Mas no fim mudamos de canal e seguimos em zapping.
Título: Religulous - Que o céu nos ajude
Realizador: Larry Charles
Elenco: Bill Maher
Nota: 6/10

1 comentário:

B. disse...

Continuas a fazer zapping porque não acreditas no que o Maher expõe ao ridículo...

Mas com as personagens que o homem apanhou, não havia sequer hipótese de ser sério. (especial destaque para o padre do vaticano que se diz que tudo é uma tanga...adorei)

Acho que está muito divertido, manipulado mas com gosto. Os cortes até nas entrevistas estão muito bons, há algumas expressões que são obviamente de outra pergunta qualquer mas ali ficam um must...

Não sei se é o Larry que monta isto, mas sim, está muito bem conseguido.


Falando em cómicos, ando viciado no Louis CK, tem textos muito bons, deves conhecer, mas se não conheces, espreita.