sábado, 8 de setembro de 2007

Declaro-vos marido e...marido.

Afinal, de que é que se fala quando se fala de mau cinema americano? De más importações que, insistentemente, vão preenchendo salas de cinema portuguesas, deteriorando a qualidade do cinema em si. Porque não só entopem as próprias salas como deixam cada vez menos espaço a produções nacionais e até a outros projectos europeus. Do que se fala, quando se fala de más importações, é de filmes como Declaro-vos marido e…marido.

A comédia norte-americana, salvo raras excepções, sempre pareceu bipolarizar-se entre o muito bom e muito mau. Ninguém esquecerá jamais o humor de Seinfeld ou filmes como Família à beira de um ataque de nervos, exemplos claros de bom gosto no que ao riso toca. Mas, infelizmente, a grande parte das comédias que nos chegam são deste género sem sal, feito para uma população com o sentido de humor mais estupidificado possível, com a inteligência de uma Cheerleader ou de um Quarterback. Mas, não satisfeito com as suas próprias piadas, os geniais fomentadores deste género, que felizmente em Portugal nunca rendeu muito mais do que uns Malucos do Riso, insistem em pincelar as suas comédias com um toque moralista e lamechas, que tem tanto de subtil como o filme de qualidade.

Repare-se que não há nada aqui contra a temática do filme. Bem pelo contrário, esse será talvez um dos poucos pontos a favor desta massa indistinta e acéfala a que decidiram chamar filme. Pelo meio dos muitos clichés que, bem para além de fazerem o filme, são o filme, há algum ar fresco neste tema anti-conservador, algo atípico em filmes feitos para a classe média, de preferência para se ver em família e nos julgarmos todos um pouco irreverentes. Apesar de tudo ser feito dentro da maior previsibilidade, há uma alerta sobre as dificuldades da vida de um casal homossexual, expressas aqui num casal de heterossexuais que se vê junto por necessidade, o que torna mais visíveis, e mais próximas do espectador, as opressões e incompreensões sociais.

Declaro-vos marido e…marido conta a história de Chuck Levine (Adam Sandler) e Larry Valentine (Kevin James), dois bombeiros, completamente heterossexuais, que, para conseguirem burlar o estado, decidem casar. O resto da história já se está mesmo a ver e todos os lugares comuns em que conseguir pensar estarão lá. A história de amor heterossexual com a mulher voluptuosa de serviço, os clichés gays (desde a dança à cena de supermercado), o don juan de bairro que vê a sua imagem perdida ou os colegas que saiem do armário. É uma colecção notável de momentos previsíveis num filme que nem os habituais gags consegue tirar da cartola com sucesso.

Não será um fracasso porque, com honestidade, já nada se espera de Adam Sandler. Lamenta-se que um actor como Kevin James, que provou em Hitch saber fazer filmes do género mas bem feitos, se associe e lamenta-se ainda que nem recorrendo a um conjunto de notáveis convidados (Jessica Biel, Dan Aykroyd, Ving Rhames e Steve Buscemi) se consiga retirar nada deste filme para além de uma moral barata de aceitação social e uma extrema perda de tempo.

Título: Declaro-vos marido e…marido.
Realizador: Dennis Dugan
Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Jessica Biel, Dan Aykroyd, Ving Rhames e Steve Buscemi.
E.U.A., 2007.

Nota: 1/10

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