sábado, 10 de novembro de 2007

A Outra Margem

Do realizador de Adeus, Pai e depois de A Passagem da Noite, chega-nos A Outra Margem, um filme em forma de revisão moral da conduta social de aceitação e compreensão do outro, ainda que o realizador recuse o epíteto de filme sobre o preconceito. Luís Filipe Rocha assina em A Outra Margem um filme consequente na sua obra mas que peca por alguma excessiva boa vontade que não consegue deixar de pairar, aqui e ali, sobre a forma de moralismo lamechas e previsível.

A Outra Margem
é a história de um travesti, interpretado por Filipe Duarte, que se vê numa espiral depressiva após o suicídio do companheiro, culminando na sua própria tentativa de morte. Este é o ponto de partida do filme. Porque é através da dor e do vazio interior de Ricardo, o travesti, que se originará grande parte da relação afectiva do filme e porque é dele que partem as linhas com que se cosem todas as histórias que à volta desta germinam.

No auge da sua crise, a irmã vem visitá-lo, volvidos vários anos de Ricardo ter fugido de casa. Uma irmã rancorosa com a vida mas feliz pela dádiva do seu filho, o sobrinho com trissomia 21 e sedento de descobrir a vida, o pai conservador e orgulhoso que labuta a terra sem se permitir veleidades sentimentais e a ex-noiva que abandonou no altar são as outras personagens nesta teia em que se torna o filme.

Daqui se depreende que haveriam várias histórias entrecruzadas, com finais e revelações subsequentes. Engano. A história, apesar de tudo isto, centra-se constantemente na pessoa de Ricardo e na exploração da sua relação com o sobrinho Vasco, interpretado por Tomás Almeida. Se, por um lado, esta centralização se percebe e aceita, por outro é um dos maiores impedimentos à própria evolução do filme. Porque esta era uma história principal facilmente adaptável a uma curta-metragem e porque as outras personagens – especialmente as femininas – surgem, assim, descosidas e inconsequentes, servindo apenas como muletas da história de Ricardo – apesar de mostrarem apetência para mais.

A Outra Margem – nome que remete para uma das mais bem conseguidas cenas do filme – denota elevado cuidado na compreensão social. Não se coloca num plano demasiado moralista – embora essa qualidade lhe esteja inerente – nem se refugia nos clichés mais fáceis dos temas sensíveis que aborda – a deficiência de Vasco, a homossexualidade de Ricardo ou a solidão de outras personagens. O que sobra depois de um filtrado moral e consciencioso, o que não é de todo mau, é um filme essencialmente capaz, mas cujas principais atracções são as duas interpretações masculinas principais, com claro destaque para Tomás Almeida.

Título: A Outra Margem
Realizador: Luís Filipe Rocha
Elenco: Filipe Duarte, Tomás Almeida, Maria D`Aires, Horácio Manuel, Sara Graça, Eduardo Silva, João Pedro Vaz
Portugal, 2007.

Nota: 6/10

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