sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Paranoid Park

“No one’s ever ready for Paranoid Park.”

Baseado no romance homónimo de Blake Nelson, chegou às salas portuguesas no final de Novembro o novo filme de Gus Van Sant. Não há muito tempo tínhamos visto reposto Mala Noche, o primeiro filme da carreira do realizador, e agora somos confrontados com Paranoid Park, ainda na ressaca da trilogia que Gerry, Elephant e Last Days compõem. Paranoid Park é a consequência lógica dessa mesma trilogia e o que a ressaca deixou foi um aperfeiçoar da arte a que Van Sant nos vinha habituando. A de compreender o fenómeno da adolescência contemporânea e de o mostrar. Repare-se, não é a arte de explicar, nem a de julgar, nem a de punir, nem a de dissecar. Tão somente a de mostrar.

Alex e o seu amigo Jared vivem entre os problemas comezinhos e corriqueiros das suas vidas e o skate. Os pais de Alex estão a separar-se. A namorada de Alex é um cheerleader possuidora de um ensurdecedor vácuo mental. É no skate, na sua comunidade, que Alex encontra uma evasão – que nem é prepositada – que lhe permite alguns momentos de auto-satisfação. Com Jared, começa a frequentar um parque construído por e para skaters, o Paranoid Park, um local marginal e uma casa para uma geração à procura de alguma identidade. Um dia, por acidente, vê-se envolvido na morte de um segurança. O que esta morte despoleta é a consciencialização da parte de Alex que há mais na vida do que a sua existência.

Aqui se inicia uma espiral de evocações na cabeça de Alex que, aos poucos, vamos presenciando. A culpa, a dúvida e o arrependimento vão-se imiscuindo e a eles vamos tendo acesso aos fogachos pela pena de Alex. Há demasiado a ocorrer na sua cabeça e, sem que ninguém se aperceba, ele vai-se afastando lentamente de toda a realidade que, vem a aperceber-se, de real tem muito pouco. Paranoid Park é um retrato conciso e preciso de uma geração letárgica, amoral e apática. Tudo isto conscientemente. Paranoid Park é um retrato preciso desta realidade adolescente americana porque não se trata de um julgamento em forma de filme mas antes de uma fotografia panorâmica que usa Alex e a sua perturbação pessoal para o expor a si e aos que o rodeiam.

Filmado com actores amadores, Paranoid Park é, para além do retrato social, um belíssimo filme de autor. De Gus Van Sant, mais precisamente. Com forte peso, quer na temática quer no estilo, dos seus filmes anteriores, Paranoid Park mostra Gus Van Sant no seu melhor, denotando o filme bastantes marcas identificativas, que em muito enriquecem o filme. Desde a música – de Nino Rota a Elliot Smith – até à cronologia desviante com que a história é contada, muitos são os adornos que tornam Paranoid Park num dos melhores filmes de 2007.

Título: Paranoid Park
Realizador: Gus Van Sant
Elenco: Gabe Nevins, Daniel Liu, Jake Miller, Taylor Momsen, Lauren McKinney, Olivier Garnier, Scott Green
França e E.U.A., 2007.

Nota: 8/10

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