segunda-feira, 5 de maio de 2008

Nunca é Tarde Demais

Custa um pouco julgar um filme como Nunca é Tarde Demais. Obviamente que não é um filme que deixará grande memória, até porque não é a isso que se propõe. Propõe-se a ser um momento de entretenimento em jeito de falsa comédia. Não há pretensiosismos no filme, nem mesmo, por estranho que pareça ao ler a sua sinopse, há lições de vida ou de moralismos. Existe a habitual catarse das personagens, invariavelmente transformadas para melhor, mas até nisso o filme consegue fugir a alguns clichés do género happy-ending. O que não existe é uma história que, ao longo do filme, consiga estar a par da sua premissa inicial. Mas, com verdade, também não era isso que esperávamos.
O que esperamos sempre que vemos Jack Nicholson ou Morgan Freeman no ecrã é um desfilar da arte de interpretar. Ao ver os dois juntos, o mínimo por que podemos ansiar é um tratado de boa representação. Nesse aspecto, e mesmo que o filme nem sempre seja a muleta que deveria, ambos estão soberbos. Poucas dúvidas existem quanto aos recursos que ambos possuem. Serve o filme, para além de exercício de apreciação, para reflexão sobre a carreira de ambos, especialmente a de Freeman. Se é certo que Nicholson tem no seu currículo algumas escolhas menores, não é menos verdade que o seu nome figura num bom punhado de grandes filmes, onde pôde aliar o seu talento a um filme consonante - de Voando Sobre um Ninho de Cucos a Departed. Já Freeman, para além de alguns memoráveis filmes que marcam a sua carreira, divide-se entre argumentos menores e géneros onde dificilmente pode explorar a sua capacidade dramática.
Em Nunca é Tarde Demais, aparte qualquer fragilidade na história, existe espaço para ambos explorarem a sua personagem ao máximo. O que poderia ser um grave engano - explorar o filme a partir das suas cabeças de cartaz a servir de isco - torna-se o principal atraente - Freeman e Nicholson têm todo o espaço e liberdade. Freeman é Carter Chambers, um mecânico internado com cancro que se vê companheiro de quarto de Edward Cole, um milionário interpretado por Jack Nicholson. Percebem-se um ao outro por viverem o mesmo drama e da inusitada compreensao mútua nasce uma amizade. Quando confrontados com o escasso prognóstico, decidem-se a concretizar uma lista com desejos por realizar de cada um.
Até este ponto de partida, e com este ponto de partida, Nunca é Tarde Demais é um filme autosuficiente. Apartir deste ponto entra em piloto automático e perde-se na interpretação dos dois actores. Ainda bem. Ganham-se alguns momentos de humor genuíno, um lado dramático que o filme explora superficialmente e uma história de entretenimento que consegue não ser estampadamente moralista nem profundamente inócua. É sobre o poder da morte, ou do medo desta, que aqui se fala. Mesmo que escondida na cara de dois grandes actores.

Título: Nunca é Tarde Demais
Realizador: Rob Reiner
Elenco: Jack Nicholson, Morgan Freeman, Sean Hayes, Rob Morrow e Rowena King
E.U.A., 2007.

Nota: 5/10

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