sábado, 17 de janeiro de 2009

Feed the Animals


A música, por vezes, confunde-me. São editados demasiados cds, demasiadas bandas lançam as susas músicas no MySpace e todos os dias me esfregam nos ouvidos novos nomes, novas caras, novas promessas ou o retorno de antigas certezas. Há sempre uma música nova na rádio, um novo hype que estamos a perder e toda a gente tem algo a acrescentar sobre a música que se faz. A verdade é que cada vez conseguimos apreciar pior a música que nos rodeia porque não temos tempo de a ouvir convenientemente. Perdemos o sentido de perceber porque ouvimos música. Gregg Gillis, o nome que se esconde por trás de Girl Talk, tem uma resposta. Ouvimos música porque nos divertimos. Gostamos de ouvir as músicas que conhecemos e gostamos e de nos recriar com elas. Gostamos daquelas partes específicas das nossas músicas e estamos muitas vezes à espera que elas cheguem. O seu trabalho é antagónico. Por um lado, parte da premissa que a música é confusa e colhe daí o produto onde trabalha até a confundir ainda mais. Por outro, torna tudo mais simples, a música é para nos entreter.
Se, de um trabalho, se dissesse que juntou Avril Lavigne, Rod Stewart, 50 Cent, Rihanna e Britney Spears, tremeríamos de medo. Se, de outro trabalho, se dissesse que juntou Radiohead, Aphex Twin, Air, Hot Chip e Daft Punk, juntaríamos as mãos em agradecimento divino. Se nos dissessem que juntaram todos estes nomes num só, riamo-nos. Não, se falarmos de Girl Talk, que a tudo isto já nos habituou. Night Ripper trazia um ambiente do mesmo género e, por isso mesmo, não somos tomados de surpresa. Mas o ritmo é ligeiramente diferente - apesar de tudo com um pouco menos de hip-hop - e o arrojo bem mais acentuado. Em Feed the Animals, as passagens são constantes e o sentimento é de difícil definição. Funciona na mesma medida que uma prova de vinhos, em que importa saborear um a um, experimentando as várias castas, em vez de uma valente bebedeira de apenas uma qualidade. Não me interpretem mal, sou um acérrimo apologista de beber uma garrafa até ao fim. Mas beber um pouco de todos, se nos derem os melhores, também não é nada mau.
Nem sempre resulta, é verdade. Especialmente porque o que na maior parte do tempo nos parece um exercício divertido, bem disposto e diferente, às vezes pode soar a cansativo de tantos momentos intempestivos de 'corta e cola' sem espaço para respirar algo mais coerente. Salve-se que há momentos de grandiosa boa disposição. Como em "What's it all about", quando a épica "Bohemian Rapsody" termina em beleza uma canção por onde passaram Rihanna e Jay-Z, Outkast ou Beastie Boys. A mistura é imprevisível. Tal como "In Step" abre com Roy Orbison a abrir caminho por entre caminhos Hip-Hop até chegar a "Lithium" - quem já tinha pensado em juntar na mesma faixa Orbison e Nirvana? As misturas são inúmeras e cada uma mais surpreendente que a outra. Se a música está mais complicada e confusa, isso não é culpa de Girl Talk. Ele só se aproveita disso. E bem.
Título: Feed the Animals
Autor: Girl Talk
Nota: 7/10

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