sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Kala


Em 2005, talvez fosse necessário apresentar M.I.A., nascida Maya Arulpragasa no Sri Lanka e radicada em Londres. Não hoje. Em 2005 deu-se a conhecer com Arular, um disco de enorme ecletismo, de constante fusão de géneros e influências, cimentando na argamassa do Hip-Hop e da Electrónica dançante a música étnica que lhe corre nas veias. Sintetizando o tradicional (um pouco à imagem do que Buraka Som Sistema faz com a música angolana), M.I.A. conseguia manter o aspecto mais tribal da música escondido por entre batidas enérgicas e impossíveis de ouvir parado.

Em 2007, M.I.A. traz Kala. Abandona ligeiramente os terrenos Hip-Hop como cimento, concentra-se mais no Funk já previamente existente e usa os sintetizadores, menos para esconder a música que apresenta, mas mais para a servir. Se Arular era disco para dançar extasiado e sem pausas pela noite dentro, Kala é dança tribal em discoteca de luxo, pontuado com momentos de pausa para ir buscar mais um copo. É um disco ainda mais eclético, ainda mais enérgico, ainda mais continuo, não tanto de um ponto de vista da pista de dança. É para ser ouvido estereofonicamente e bem alto, mas pode não se dançar. Não se consegue é passar indiferente.

Embora possa parecer paradoxal, M.I.A mantém-se tanto ou mais indisciplinada, irreverente e imprevisível quanto mais maduro e solidificado é o seu álbum. Ganhou relevância sem perder originalidade. Trabalhou-a mais do que a moldou e o resultado é bastante agradável. Vivo, sedutor e bem disposto. Sem ser inconsequente. Despretensioso mas actual e premente. Por entre participações e referências, muitas são as músicas que se vão destacando. Como a primeira faixa “Bamboo Banga” ou o single “Bird Flu”, ambas de um ritmo frenético e contagiante.

Ou como “Jimmy”, versão de uma música de um filme de Bollywood. Com Timbaland assina “Come Around”, faixa que dá o trabalho por encerrado, não sem esquecer essa penúltima música, um hino de bem sintetizar ritmos e vontades musicais. “Paper Planes” é descrição perfeita de como fazer um bom cocktail. Com muito álcool e agressividade, mas que ao mesmo tempo se beba com gosto e entusiasmo. A bebedeira vem depois. Esperemos que a ressaca esteja à altura.

Título: Kala
Autor: M.I.A.

Nota: 8/10

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