terça-feira, 9 de setembro de 2008

Ames Room


Estamos fascinados com a grandeza. De uma maneira geral. De uma maneira geral, porque nos afecta a todos e cada vez mais. De uma maneira geral, também, porque nos acontece em quase tudo. Gostamos de ser os melhores. Não nos é suficiente ser bom, temos de ser melhores. Ou maiores. Gostamos que reparem em nós. A música não é, e nunca foi, excepção. Gostamos de arranjar cognomes como a "maior banda do momento" ou a "rainha da Pop". Cultivamos este culto maximal quando fomentamos que apenas os melhores tenham sucesso. Gostamos de os eleger e celebrar, em aparatosas cerimónias. Sabe bem, por isso, ouvir algo como Ames Room.
Da autoria de Silje Nes, uma norueguesa cuja beleza da voz tem apenas comparação na sua própria beleza, Ames Room é inteiramente gravado na casa de Nes. Nunca percebemos bem o que estamos a ouvir - poderá, inclusive, acontecer que alguns não se apercebam sequer de estar a ouvir - mas somos envolvidos pela acalmia inexplicável que o álbum cria - será o xilofone? É difícil ainda catalogar a música minimalista de Nes. Nunca transborda o copo para o lado experimental, mas raramente se mantém nos padrões clássicos da Pop, pelo menos como gostamos de julgá-la. Há uma variedade de instrumentos que são amestrados por jugo electrónico que vagamente se faz sentir. Talvez o objectivo seja esse mesmo, tornar tudo isto difícil de desmembrar.
Dissecado ou não, o resultado será sempre diverso. Pode-se ficar perfeitamente indiferente a Ames Room. Podemos ouvir e não desejar mais. Ou podemos sentir-nos atraídos pelo ambiente ansiolítico do álbum e utilizá-lo como terapia auditiva. Nada é certo. Silje Nes fez o seu papel ao criar um conjunto de paisagens minimalistas. Músicas como "Ames Room" ou "Bright Night Morning" são bom ponto de partida. A maneira como as utilizamos depende da nossa predisposição para tal.
Título: Ames Room
Autor: Silje Nes
Nota: 7/10

1 comentário:

João disse...

...é como dizes podemos ouvir e não desejar mais ou então enveredar no desconhecido e depois descobrir a beleza de um mundo único e maravilhoso. Talvez um álbum não totalmente idílico mas com 3 ou 4 paisagens inesquecíveis!

http://sonsurbanos.wordpress.com/2009/04/01/412/