quarta-feira, 20 de maio de 2009

Anjos e Demónios


Não há nenhuma razão, senão a económica, para Anjos e Demónios não passar directamente ao DVD e à programação televisiva de fim de tarde de domingo. Pelo menos razão cinematográfica não há de certeza. Apresentada como sequela de Código da Vinci, Anjos e Demónios é mais que isso, é um repetir da mesma fórmula, na exacta mesma forma, sempre em modo cruzeiro e sem a audácia sequer de tentar algo. É como se não houvesse brio em Ron Howard - a julgar pela carreira, para além de brio não há também grande talento - e este não passasse de um mero técnico competente que, qual funcionário público à hora de fecho, se vê obrigado a despachar trabalho.
Tudo em Anjos e Demónios aponta no sentido inevitável da falta de conceito que neste filme é óbvio. De prequela - em livro - passa a sequela - em filme - de Código Da Vinci, mas isso não obriga a qualquer alteração no guião - o que diz muito sobre a qualidade do livro e o rigor do filme. Personagens do livro desaparecem, metamorfosam-se ou são engolidas por outras, sem nenhum motivo ou razão. Fora Ewan McGregor - um óasis no meio do deserto - todos funcionam em piloto automático, sem emoção ou personagem. Tom Hanks é um boneco de si mesmo e Ayelet Zurer torna-se uma personagem quase fantasmagórica, tão submissa e éterea é a sua presença. Não há, no filme, espaço para pensar ou para julgar nada. Bola para a frente e corrida, que o que interessa é despachar o blockbuster e compensar financeiramente - o que é um paradoxo engraçado com a obra de um escritor que empina o nariz pelo pensamento e pela dúvida. Todos os apetrechos comercialoides de Hollywood estão cá. A acção previsível, as perseguições de carro pela cidade, o heroí sábio contra os ignóbeis vilões ou o twist final. Até a costumeira polémica com a Igreja Católica, mais avessa a chamar público do que a afastar crentes, já veio ao de cima.
Tudo isto resulta, obviamente, num blockbuster engraçado com entretenimento garantido para levar a família. Mesmo o que se poderia pensar que interessaria no livro - e que também não interessa - é olvidado, como o estado da igreja católica ou a relação desta com a ciência. Interessa pôr uns carros a alta velocidade e umas surreais - e quase idiotas - quedas de paraquedas. Então se misturarmos isto com um professor de simbologia que mistura o pior de Indiana Jones, House e José Hermano Saraiva, o serão está feito.
Título: Anjos e Demónios
Realizador: Ron Howard
Elenco: Tom Hanks, Ayelet Zurer, Ewan McGregor e Stellan Skarsgård.
E.U.A., 2009.
Nota: 4/10

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