sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Os Simpsons


Nenhuma família, nem mesmo a família real inglesa, nem mesmo a família Jolie-Pitt, será tão amplamente reconhecida e terá tanta influência como Os Simpsons, a família amarela. Quando a série começou, em 1987 como parte integrante de The Tracey Ullman Show, o principal receio estava em como poderia uma família com um egoísta irresponsável, um rebelde inconsequente e uma irritante presunçosa ter sucesso. Essa parte foi fácil. Homer tornou-se um ícone e uma forma interessante de pôr os americanos a rir de si próprios, Bart, mais cedo ou mais tarde, juntou-se ao pai, e Lisa será sempre uma bandeira de causas que, a pouco e pouco, se tentam martelar no panorama norte-americano.

O receio seguinte talvez fosse quanto tempo poderia esse estado de graça durar mas, 20 anos volvidos, nada impressiona tanto como a capacidade actual e premente de criar humor corrosivo, irónico e, acima de tudo, realmente cómico. Tudo estará, porventura, na recriação, na inovação, nos pequenos pormenores que se mudam para não cansar, nas mais inesperadas situações que a série pode proporcionar, fruto de ser uma banda desenhada e não uma série com pessoas reais. Ainda que, para todos nós, eles sejam, de facto reais. Mas concentremo-nos no filme.

Os Simpsons, enquanto filme, nasce como comemoração dos 20 anos da série. Traz-nos um Homer Simpson igual a si próprio que se vê subitamente no papel de ama de um porco. Sem grandes alongamentos, daqui se passa rapidamente para um situação de catástrofe ambiental, no centro da qual se situa a cidade de Springfield, terra da família Simpson. O filme passa escorreito, sem nunca aborrecer, nunca permitir que tiremos o sorriso da boca mas, obviamente, não tem o mesmo ritmo nem intensidade de humor que se exige no curto espaço de tempo de um episódio de série. Por um lado, ainda bem. Isso permite-nos apreciar o humor irónico e corrosivo de Matt Groening sem nos perdermos nas nossas próprias gargalhadas.

A forma inteligente com que se aborda a problemática ambiental tem tanto de séria como de critica. Mas consegue fugir ao tom paternalista e demagogo. Porque consegue perceber que também esse discurso é perigoso e torna-se pouco eficaz e assim se distancia dele, satirizando as tipificadas palestras e concertos por causas, colocando a bola do nosso lado. É esta fuga ao convencional que faz com que a mensagem pegue e com que o humor seja de qualidade e corrosivo. Que o diga, por exemplo, Schwarznegger.

Há humor sobre os limites do poder, sobre o ambiente, sobre religião, mas há também humor sobre a pequena vida social, a vida familiar e o homem moderno tipificado. Se este fosse um filme sem qualquer tipo de história por trás dele, seria provavelmente um dos melhores filmes de animação de sempre. A pergunta que se coloca é se o filme veio acrescentar algo que o formato série não o tivesse feito. Não. Mas surgirá o filme, de alguma forma, como um objecto estranho ou menor em relação ao resto da obra? Também não. Seja bem-vindo então.

Título: Os Simpsons
Realização: David Silverman
Elenco/Vozes: Dan Castellaneta, Julie Kavner, Yeardley Smith, Nancy Cartwright e Harry Shearer.
E.U.A., 2007.

Nota: 6/10

1 comentário:

B. disse...

Há claramente episódios melhores que o filme, mas acho que o filme não merece tão pouco, se calhar nem lhe dava o 8, mas o 7 claramente.

Achei injusto dares relevo apenas ao Matt Groening...Eles são muitos, embora ele seja o mais sonante, acho que é obvio que num episódio de 90min, e mesmo nos outros, aquilo tudo não cabe na cabeça apenas dele...

Gostei do filme, divertiu-me e serviu para fazer dinheiro, terá feito, e provavelmente virá a "sequel" provando isso mesmo.

Mas sim, podia ser mais genial, embora tenha momentos mesmo bons.