domingo, 1 de março de 2009

O Visitante


Há sempre um dos destes casos nos óscares. Um filme pequeno e independente, assumidamente outsider numa das categorias que, por força dessa nomeação, consegue uma visibilidade que não esperava. Desta vez, o brinde calhou a O Visitante, com uma merecida nomeação de Richard Jenkins para melhor actor. E ainda bem. Jenkins, que nos torna sempre saudosos da série Sete Palmos de Terra, é um professor de economia absorto na sua própria ausência. Vive, ensina e escreve com uma completa sem-vontade, num ritmo mecanicista e alheado. Forçado a regressar a Nova Iorque para um congresso, é surpreendido por um casal de emigrantes a viver na sua casa. Um tocador de djembé sírio e a sua mulher senegalesa. Forçado a conviver com eles, reencontra uma alegria e uma espontaneidade há muito perdidas.
Algures no meio disto, nasce um novo filme. Tarek é preso pelos serviços de imigração e vê-se envolto numa espécie de reconstituição moderna do Processo de Kafka, desesperando por não saber o que fazer nem a quem recorrer na ânsia de voltar à sua antiga vida. De um lado temos a vida da personagem de Jenkins. Tem tanto de metáfora da vida moderna - um alheamento total das pessoas e da vida à nossa volta, centrada numa rotina em que não nos apercebemos faltar sentido - como não passa de uma história simples e verdadeira de um homem, sem mais presunções. Do outro, a luta de Tarek. Desta vez não há equívocos. O que aqui se envoca é a América pós-11 de Setembro, cega e McCarthista. Uma América que segrega os seus emigrantes e os trata, indiferenciadamente, como lixo. Que um realizador faça isto, não sendo novo, é salutar. Mas o que impressiona é que Thomas McCarthy consiga imprimir tamanha verosimilhança às pessoas de que se serve. Ninguém é marioneta nas mãos do realizador para servir os seus fins de denúncia politica. Vemos pessoas reais.
É este o principal trunfo de O Visitante. Os seus actores - ou antes, a forma como não o parecem - e a direcção dos mesmos. Poderia argumentar-se que este quase desdobramento em dois filmes jogaria contra o mesmo. Mas, fruto da veracidade que a história condensa nas suas pessoas, essa dualidade acaba por jogar bem com um filme que é simples e humano. O papel de McCarthy é uma soberba ligação da sua matéria prima e um trabalho notável sobre os tempos do filme. Nada é excessivo. Temos a exacta visão sobre a vida costumeira de Jenkins. Nem a menos, que nos poderia saber a pouco, nem a mais, que nos poderia enfadar. Os planos parecem estudados ao pormenor para terem o impacto perfeito, o timing preciso e a duração ideal. O resultado é quase sempre belo e, melhor ainda, é-o de forma desinteressada - aparentemente, pelo menos. Que um filme pequeno, simples e belo como este passe despercebido é comum. Mas nem por isso menos grave.
Título: O Visitante
Realizador: Thomas McCarthy
Elenco: Richard Jenkins, Haaz Sleiman e Danai Jekesai Gurira
E.U.A., 2007.
Nota: 7/10

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