terça-feira, 2 de setembro de 2008

Music Hole


Triste ponto este a que chegámos em que o mais simpes possível acaba por ser do mais complexo e do mais experimental. Sem reparar, achamos profundamente natural, como se a música sempre tivesse sido assim, que a grande maioria do que ouvimos seja composto por melodias Pop-Rock de guitarra chavão e bateria ambiental. Hip-Hop, Pop, Trip-Hop, Electrónica, somos constantemente forçados a crer, e muitas vezes com óptimos argumentos, que a música se resume aos instrumentos, sendo a voz, tantas vezes, percebida como um elemento menor na composição musical. Camille prova-nos o contrário. Já houve um tempo em que a melodia era essencialmente oral. É desta tradição que parte Camille. Até chegar a Music Hole.
Não é nova para os nossos ouvidos a francesa, e sensual, Camille. Uns conhecem-na como Camille e não se esquecem, com certeza, do fantástico Le Fil, o mais aclamado dos predecessores de Music Hole. Outros conhecem-na da sua participação nos Nouvelle Vague, a banda que se celebrizou por revestir alguns clássicos da música Pop. Aos que a conhecem de ambos os trabalhos, não será estranho a qualidade e a musicalidade de Music Hole. Do seu percurso a solo, e em especial de Le Fil, percebemos o gosto pela experimentação; dos Nouvelle Vague traz a mesma categoria em criar orquestrações Pop vivas, ousadas e originais.
Music Hole é um trabalho que vive da voz. Mentimos se dissermos que é feito com único recurso a vozes humanas como instrumento, já que nalgumas - poucas - músicas um piano ecoa harmónico ajudando à composição. Mas é a voz o instrumento principal que é trabalhado com elegância e sem esforço. A referência mais imediata será com Bjork e o seu Medulla. Maiores são, contudo, as divergências entres os trabalhos do que os pontos em que convergem. Medulla, à imagem e semelhança de Bjork é arrojado, irreverente, nada consensual ou fácil. Este é o ponto forte de Music Hole. Vive de ambientes Pop, de melodias simples e de arranjos sonoramente aprazíveis e facilmente perceptíveis. E ainda assim, apesar da profunda simplicidade, variado. Abre em grande com o espantoso, a vários níveis, "Gospel with no Lord" e consegue passar pelo modernismo de "Home is where it hurts", pelo experimentalismo final de "Cats & Dogs" e pela tristeza clássica de "Winter Child". Tudo isto recorrendo à voz, esse instrumento tantas vezes proscrito. A música pode ser tão simples.
Título: Music Hole
Autor: Camille
Nota: 7/10

Sem comentários: