domingo, 23 de setembro de 2007

Hamlet

Co-produção entre o Teatro Maria Matos e a Comuna Teatro de Pesquisa, está em cena no Teatro Maria Matos, desde 13 de Setembro, Hamlet. Espectáculo comemorativo dos 50 anos de carreira e 35 e Comuna do encenador João Mota, é o próprio que assina a versão cénica e encenação deste clássico de Shakespeare que se apresenta, mais do que como um dos maiores clássicos dramáticos de sempre, uma verdadeira súmula da representação, onde se esbatem as barreiras entre o real e o figurado.

Para os mais distraídos, a peça acompanha a história de um príncipe cujo pai morreu recentemente e cujo tio desposou a mãe, a qual, na visão de Hamlet, não se concedeu o período de luto minimamente aceitável. É a aparição fantasmagórica de seu pai, nesta versão de João Mota uma mistura entre imagem de filme anime e personagem de Star Wars, que vai despoletar o enredo ao desvendar que fora o seu irmão o autor da sua morte.

Desenha-se assim, em Hamlet, um conjunto de sentimentos e sensações que se cruzam, fruto das muitas personagens que muito enriquecem a peça, e que tão bem conseguidas estão na peça que sobe ao palco no Maria Matos. Houve, dificilmente não se notará pelas ruas de Lisboa, uma estratégia de Marketing inteligente, mas redutora, que se centrava em Diogo Infante, que veste a pele (e mais que a pele) de Hamlet. Esse será, muito provavelmente, o maior feito desta adaptação. Diogo Infante assina uma interpretação memorável mas a peça não se esgota, longe disso, numa busca continua de momentos de glória do mesmo. Há uma equipa, há um conjunto, um todo, uma noção gestaltista de Teatro em que o todo, está à vista, é mais que a mera soma das partes.

Mas há, repita-se, Diogo Infante. Um actor impar em Portugal, pela qualidade que poucos igualam, mas especialmente pela versatilidade, a qual, se já se conhecia, este papel obriga a mostrar. Há, no Hamlet que percorre a peça toda, uma mistura nem sempre clara de emoções. Entre raiva, loucura, dissimulação, amor, mágoa, há um destino trágico, mas algo heróico, que se cumpre. Hamlet é uma peça de teatro dentro de uma peça de teatro, onde todos representam, todos escondem, todos usam máscaras – as mesmas que na abertura da peça João Mota nos dá a ver.

E depois, há os 50 anos de carreira de João Mota, que não se comemoram, mas sentem-se em palco, em cada pormenor. E é da soma destes, os pequeno mas deliciosos pormenores, que também se faz esta peça. Como o palco adaptado ao estilo isabelino. Ou a representação magistral do teatro de rua. Ou a vibrante cena de luta. Não é o texto imortal que se torna actual. São adaptações assim que o tornam actual. E imortal.

Título:
Hamlet
Autor/Tradutor: William Shakespeare/Sophia de Mello Breyner
Encenador: João Mota
Elenco: Albano Jerónimo, Alexandre Lopes, Ana Lúcia Palminha, Carlos Paulo, Diogo Infante, Frédéric Pires, Gonçalo Ruivo, Hugo Franco, João Ricardo, João Tempera, Jorge Andrade, José Pedro Caiado, Miguel Sermão, Natália Luíza e Raúl Oliveira

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