domingo, 8 de novembro de 2009

Maldito United


Quando o universo do cinema se cruza com o do futebol, o resultado é quase sempre desastroso. As opções habituais passam por explorar o jogo enquanto jogo - camâras focadas nos pés, bolas a rolar, fintas e golos - ou o jogo enquanto espectáculo através das suas vedetas. A primeira opção dá origem a entretenimento barato com aspecto de filme caseiro e os truques soam quase sempre a falso. A segunda opção não passa muito para além do filme teenager - ou na exploração da vedeta ou na ascenção melodramática do pobre jogador. Existem alguns exemplos raros - como o recente filme sobre Zidane - mas o grosso da história desaprova o casamento entre os dois.
Maldito United, do argumentista Peter Morgan, é uma óptima contradição disto mesmo. Sendo um filme mainstream, é inteligente na forma como aborda o jogo. A razão porque resulta está longe de ser o enredo, Michael Sheen ou Tom Hooper - embora qualquer um destes pontos ajude. É bem mais simples do que isso. É que Maldito United é um filme sobre pessoas, não sobre o jogo. A pessoa em causa aqui é Brian Clough, reputadíssimo treinador britânico , com uma grande falha no seu currículo. É nesta falha, a fugaz passagem de 44 dias pelo Leed United, que se centra o filme de Hooper. Há futebol neste filme, mas de uma forma estranha. Não se mostra o jogo, a não ser de forma extemporânea. Mas ele está sempre presente. Como pano de fundo, como cenário. Mas, mais do que isso, na própria respiração das personagens, que vivem aquele desporto. E essa é talvez a melhor forma de homenagear o desporto no cinema - coisa que realizadores ao longo de décadas parecem não ter percebido.
Mas Maldito United é também um filme que poderia não ter futebol em lado nenhum. Porque é Brian Clough que seguimos, e apesar de a sua relação com o futebol ser interessante, é a sua visão de si mesmo que enche o ecrã. Clough é um homem ambicioso que se deixa cegar por uma sede de vingança e por uma ambição desmedida que, como quase sempre acontece e dito em português corrente, lhe acabaram por tirar o tapete debaixo dos pés. O futebol tem essa vantagem - e basta ouvir um qualquer flashinterview de um jogo da Liga Vitalis para perceber. A passagem de bestial a besta é instantânea. O trabalho de Michael Sheen a construir um Clough bestial e uma Clough besta é soberbo. É verdade que tudo isto é filmado em formato mini série britânica de luxo, mas nem por isso deixa de ser menos verdade o fundamental sobre Maldito United. Há vida neste filme.
Título: Maldito United
Realizador: Tom Hooper
Elenco: Michael Sheen, Jim Broadbent, Bill Bradshaw
Reino Unido, 2009.
Nota: 7/10

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