terça-feira, 24 de março de 2009

Companhia das Índias


A maioria destas curtas tentativas críticas começam por apresentar a pessoa em questão, com um sucinto "quem é, o que tem feito e de onde vem", que se dispensa por completo com Rui Reininho. Há mais de 20 anos que a Pop portuguesa vive com o seu nome ou, na maioria do tempo, à sombra do seu nome. Não só porque Rui Reininho tem sido sempre um dos mais importantes nomes da Pop feita em português (ou, mais abragentemente, em Portugal), mas porque é, repetidamente, dos GNR que esperamos algo de novo. O que, em verdade, já não acontecia à algum tempo. Companhia das Índias, o primeiro trabalho a solo de Rui Reininho é um retrocesso no processo natural da banda - de morna consolidação e repetição dos mesmos processos. Sabe à originalidade que os GNR tinham no ínicio da carreira - o que se nota especialmente nalgumas músicas - e é um dos melhores trabalhos Pop do ano passado - talvez mesmo dos últimos anos. A lista de convidados para este jantar indiano é de um irritante bom-gosto e de uma selectividade em si prometedora (Paulo Furtado, Rodrigo Leão ou Margarida Pinto). Não é como se Companhia das Índias fosse algo de totalmente inesperado por parte de Reininho - é, aliás, perfeitamente expectável. Mas é bom, como se diz de uma refeição que é boa, mesmo quando conhecemos bem os ingredientes - Música Pop de refrão orelhudo, letras quase-surrealistas e composições experimentalistas.
Senão, vejamos. "Morremos a rir" é o single óbvio, do mais próximo que temos para nos recordar que este é o nome que associamos aos GNR. "O estranho caso do amante preguiçoso" traz Armando Teixeira escrito por todo o lado - ler como um elogio -, tal como "Morgana Penélope" parece saída de um álbum de Rodrigo Leão - "Pasíon" era colaboração melhor conseguida, mas esta dupla atacante é para manter. Entretanto, se distraídos, demoramos alguns segundos a perceber que é "Bem-Bom" que estamos a trautear, já que a insuportável música das Doce deu lugar a uma versão after-hours de calmaria pós-noite. Também vinda dos anos 80 é a inspiração de "Dr. Optimista", uma música que virá nas sebentas universitárias de como fazer uma música Pop de qualidade. Há momentos de menos turbilhão, mas, como qualquer indiano que se preze, é no bom caril que encontramos o melhor sabor deste álbum. Quando Rui Reininho tira o pé do acelerador, perdemos também o embalo. Mas, engrenado, Companhia das Índias é das melhores viagens Pop dos últimos tempos.
Título: Companhia das Índias
Autor: Rui Reininho
Nota: 7/10

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