sexta-feira, 7 de março de 2008

Jukebox


Que não é fácil fazer um cover é falso. É fácil e não dá grande trabalho. Difícil é fazê-lo bem. Vestir novas roupagens à música, conferir-lhe uma identidade nova – não esquecendo a sua origem – e recriá-la à luz do seu novo autor. Richard Cheese deu cor a temas sombrios no brilhante The Sunny Side of the Moon, os Nouvelle Vague vêm revisitando temas em formato Chillout e, à cabeça, Cat Power é conhecida pela sua voz entre o poderoso e o sensual com que se apropria das canções de outros.

O mundo das reinterpretações já conhecia o nome de Cat Power de outras andanças em que já provara saber manusear a musica alheia a seu belo prazer. Jukebox, a bem dizer, não traz nada de novo. É mais Cat Power a escolher a dedo os temas que mais prazer lhe parecem dar a remexer. É com tranquilidade, de forma sensual e naquela feminilidade algo roca que se instala nos nossos ouvidos uma sonoridade muito Pop, com um outro apontamento Country e muito blues a adocicar o conjunto. Por muita tinta que a história conturbada de Cat Power faça correr, por muito que o seu historial de abusos ainda pontue muito o que sobre si se escreve, é esta espantosa voz, e apenas ela, que nos transporta para um estado Zen onde as letras soam familiares e, ao mesmo tempo, novas.

“New York, New York”, a canção que Sinatra eternizou dá início ao alinhamento do album numa versão completamente irreconhecível (sim, é um elogio) e de grande força e carácter. “Ramblin’Woman”, do não menos célebre Hank Williams, é enorme momento Blues, pleno de sensualidade feminina, dominadora e forte, mas ao mesmo tempo calma e segura. Segue um cover da própria, “Metal Heart”, num exercício de despersonificação que obtem resultado idêntico aos anteriores. E assim vamos seguindo em estado hipnótico, por entre James Brown, Bob Dylan, Billie Holiday, Janis Joplin ou até um inédito da própria Cat Power.

Jukebox é um álbum para ouvir em modo repeat em tarde solarenga numa esplanada tranquila. Ou para ouvir, no mesmo modo, numa violenta noite chuvosa a olhar a àgua bater na janela. Em suma, é para ouvir repetidamente, exaustivamente. Enquanto houver solidão interior que aguente.

Título: Jukebox
Autor: Cat Power

Nota: 8/10

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