quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Que Se Leva Desta Vida

"Tão presa aos sentidos é a vivência humana"

Cinco Sentidos.
Olfacto. Audição. Visão. Tacto. Paladar.

Olfacto. Cheguei atrasada e sem jantar ao Teatro São Luiz, depois de uma hora a tentar estacionar o carro algures entre o Bairro Alto e o Chiado. Eram 21 e 25 e estava acordada desde as 6 da manhã. Atrasada, cansada, com sono, com fome e sem paciência. Entrei no Teatro e assola-me um cheiro diferente. Estavam a cozinhar! A escassos metros do meu desprevenido nariz, um palco transformado em cozinha. Uma azáfama, um restaurante, cozinheiros, empregados de mesa, gritos, vapor, um camera man de um lado para o lado. Dois chefs num brain-storming de gastronomia, palavrões, vida e paixões… a magicar um prato que soberbamente ficasse para a eternidade.
Visão. Parei dois segundos e pensei sozinha que possivelmente tinha falhado a porta da majestosa mas simples sala de espectáculos do São Luiz. Mas não resisti a sentar-me para assistir a esta quase provocação. Uma provocação dos sentidos.
O que os meus olhos atentos podiam admirar era Gonçalo Waddington e Tiago Rodrigues, actores e personagens (ficção que se confunde com realidade) no meio de uma equipa de cozinheiros reais (ficção que se confunde com realidade). O Restaurante é o Cópia em Lisboa que surge de um projecto divergente depois de um estágio comum com o chefe Martin Berasategui e que, após caminhos diferentes a deambular pelo mundo da cozinha e da aprendizagem converge neste projecto de liberdade de criação dos dois cozinheiros. E a liberdade é o preço mais alto a pagar n'O Que Se Leva Desta Vida. Implica arriscar e sofrer.
Tacto. Fechei os olhos para potenciar o que o olfacto provocava em mim. Mas rapidamente os abri para tentar chegar ao palco. Porque o olhar é o rei dos sentidos. Mas não chega. Sentidos que emanam sensações. Sensações que nos levam a emoções. Queremos tocar e sentir a textura, ouvir o estalar da espuma. Saborear o que imaginamos iguaria. Tudo isto apenas ali de uma cadeira de teatro.
Audição. O que os ouvidos podem apreciar é o confronto das duas formas distintas de viver a Cozinha, a Arte e o Prazer. Gonçalo perde-se nas origens e na raça da matéria-prima. Criativo mas ligando o conteúdo à cultura do produto, que se experimenta num resultado final genuíno. Tiago, apologista da forma, fascinado por todo um caminho a percorrer em que a meta do prazer é a posteridade, num resultado tecnoemocional.
Paladar. A livre comunicação, quase improviso, repugna (o Teatro é real, o pormenor pode chocar) e seduz. E depois de todos os sentidos serem testados, quase conseguimos gozar demorada e voluptuosamente o sabor dos crocantes de alheira ou do risotto de cogumelos que acompanha o magret de pato.
No fundo, o que é a provocação se não o confronto destas dois pensamentos distintos, algures entre as origens e o futuro, em que o caminho se constrói no deleite do prazer de cada momento?
É isso que se leva desta peça… uma fusão dos 5 sentidos. Vontade de experimentar. No fundo trazemos para a vida, que nunca deixou de o ser, um pouco do Teatro. É quase instintivo. O mais importante é não viver dentro de uma caixa. Nem da vanguarda, nem do tradicionalismo. A meta é o prazer, e o prazer não é uma meta. É um caminho de momentos que se vai criando.
E quando saírem do Teatro, não se contentem com menos do que uma ceia única que vos aguce a imaginação, sem nunca deixar de sentir o real.
Porque se querem saber história, horário, preços, disponibilidade e ficha técnica têm sempre o site: http://www.teatrosaoluiz.pt/ (é absolutamente obrigatório ler as entrevistas), ou passem na Rua António Maria Cardoso, nº38. Tel: 213 257 640. E Sintam por vocês.
Título: O que se leva desta vida
Autores: Gonçalo Waddington, João Canijo e Tiago Rodrigues
Elenco e encenação: Gonçalo Waddington e Tiago Rodrigues
Dramaturgia: João Canijo
(Texto por Marta Galrito)

2 comentários:

Anónimo disse...

é bom?

Anónimo disse...

queres saber se é bom, vai ao you tube- o que se leva desta vida e vê o filme do ano comico!!!! a realidae nua e crua .
bosta de peça com dinheiro publico.
vergolha nacional.