domingo, 2 de novembro de 2008

W.


É difícil dizer o que esperamos de um filme sobre George W. Bush. Não será assim na América, caso contrário não teria acontecido a reeleição de há quatro anos, mas haverá poucas figuras que, na Europa, tenham uma conotação tão baixa ou ridicularizada. De Oliver Stone, não esperávamos
uma reedição do espírito crítico de Moore, nem o seu tom panfletário. Mas seria uma tarefa hercúlea apresentar este homem como heroí e não como vilão. Oliver Stone surpreende e decide mostrar W. como humano. Seguimos Bush, filho, já desde os tempos de Presidente megalómano de um superpotência e vamos acompanhando a duas história em dois sentidos, ou em dois tempos. O tempo do presente, com as intrigas e as histórias das decisões que, para o bem e para o mal, mudaram o mundo; e o tempo do passado, onde Stone tenta explicar parte do que é este homem que, ainda hoje, governa o mundo.
E o homem que vemos não é longe do homem que pensamos, mas não é de todo o homem que desejámos. W. mostra-nos um americano banal, alcoólico e inconsequente, boémio e tacanho, pouco culto, interessado ou interessante. Retrato fiel de boa parte da América. Essa é a parte americana de Bush, de que já suspeitávamos. Não é chocante nem especialmente interessante, muito menos novidade. O que é novidade é o olhar que Stone denota sobre isso. Não há culpa sobre George W. Bush. Não há um dedo apontado. Há pena. Como se fosse apenas mais um homem perdido, bem intencionado mas desastrado. Quase sempre, faz-se dele um idiota, uma personagem ridícula, não chega a uma sátira porque, em última análise, ele é o heroí desta história. Um heroí patético, mas ainda assim um heroí.
Mas há um outro lado de W. Bush que Stone nos mostra, este sim verdadeiramente humano. Um Bush com problemas de tragédia clássica, constantemente em conflito consigo e em conflito com o pai. É a imagem do pai que assombra a existência de W., que vive permanentemente na sua sombra e no desejo de estar à altura do apelido que carrega - sendo carregar uma palavra importante, na forma como esse sobrenome se transforma num peso e num fardo. Assim se vê um adolescente que vive na segurança de um pai que o livra de todos os percalços, uma trabalhador que não se interessa por nada e um político cuja principal motivação é o reconhecimento dos seus. É neste conflito - e especialmente quando ele se materializa cinematograficamente em cenas conflituosas entre os dois - que reside o que de mais interessante o filme de Stone oferece.
Tudo o mais é o que esperávamos e o que os trailers faziam antever. Um elenco superrealista, que nos recorda todos os nomes e caras da administração Bush; a forma como eles interagem - muito próximo de uma comédia, por vezes - e como essa interacção ocorre aparte de Bush, por muito que ele tente impor-se como figura central; e a constatação do óbvio, que Bush é uma personagem falhada. Que Stone o tente mascarar com uma pessoa acima de tudo bem intencionada e crente de estar iluminado, é uma surpresa que não chega para fazer um filme. Este ainda não é o filme sobre W.
Título: W.
Realizador: Oliver Stone
Elenco: Josh Brolin, Elizabeth Banks, Richard Dreyfuss, Ioan Gruffudd, Ellen Burstyn, Jesse Bradford e Noah Wyle.
E.U.A., 2008.
Nota: 6/10

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