domingo, 31 de maio de 2009

A Visita


O cenário é simples - e assim também é a peça e a encenação de Moncho Rodriguez. Um fardo de palha é rodeado por velas que António, o personagem principal, acende. Com ou sem metáfora, é neste cenário simples e rústico que conhecemos António, um homem rural, castiço e puro. Quase uma memória de tempos imemoriais, de um pastorício inocente feito de imagens bucólicas. Existe este fascínio do homem simples em António. Como na sua maravilha face ao cinema. Mas existe também um lado revoltado, um lado melancólico e triste. Há um homem só em António e é desta solidão que nascem as suas lutas interiores. Na maior parte das vezes contra a solidão em si. Mas também contra a sua família, por exemplo. O que pesa constantemente é o poder da memória. O lembrar como factor determinante no que é um homem. António não tem terra, podia ser minhoto, alentejano ou ribatejano. Mas é português, claramente - mais à custa da interpretação de Giestas do que do texto de Rodriguez.
A construção de Pedro Giestas sobre este homem rural é fabulosa. Nunca roça o estrelato fácil a que se prezam os monólogos mas é consistente e coerente - mesmo quando a isso não se preza o texto. É subtil mas eficiente e constroí uma personagem com tanto de particular e datado, na forma como é português, como de generalista, apesar do sotaque denunciador. Mas nem só das qualidades técnicas e interpretativas de Giestas vive A Visita. O que é pena, por vezes. O texto de Rodriguez fala de solidão, fala de um homem rural solitário, tenta roçar a critica - na imagem do irmão de António -, e fala de memória. Lembramo-nos muito de Beckett - e ao olhar para Pedro Giestas lembramo-nos do João Lagarto de Começar a Acabar - mas daqui a Beckett há um salto enorme. A Visita torna-se num mero exercírio e quase nunca uma obra porque vive sem ambições nem finalidades. O absurdo de Beckett era-o para algo. Quando A Visita foge do controlo para esses campos, é-o por razão nenhuma. E, sem ambição, A Visita torna-se cansativa na mera observação das qualidades de Giestas.
Título: A Visita
Texto e Encenação: Moncho Rodriguez
Elenco: Pedro Giestas

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