domingo, 19 de agosto de 2007

Voo Nocturno

Com honestidade, de Jorge Palma já se disse quase tudo. Simplesmente porque ele já fez quase tudo. Apesar disso, Palma consegue manter-se no imaginário musical português com o mesmo à-vontade e naturalidade com que começou. Um nome familiar ao grande público mas que nem por isso se permite a fugir aos eternos epítetos que o acompanham. De errante a marginal, com o perfume rockeiro e insubmisso que só uma vida de excessos confere.

Mas, não nos enganemos, este não é o mesmo Jorge Palma que tocava nos metros em Paris. Reflexo da idade ou da sociedade, tentemos as explicações freudianas que quisermos, o facto permanece. Há um Palma cada vez mais sossegado, mais pacato. Na música, entenda-se. Não nas letras, eternamente o prato forte da refeição completa que sempre mostrou ser. Será talvez, dizia-se, por causa da idade, mas este é cada vez menos o Palma versão Rock que tocava com os Palma’s Gang no Johnny Guitar.

Esclareça-se de novo, para que não se levantem mal-entendidos, que isso não é uma coisa má. Tanto o não é que o melhor da carreira de Jorge Palma, as músicas mais pedidas nos concertos e a razão dos fãs escrupulosamente presentes, são, em grande parte, essas baladas de cantautor marginal, mas cronicamente a colocar o dedo na ferida. Ou na nossa ou na dos outros.

Voo Nocturno é o álbum que sucede a Norte. Norte, onde se escutava um lado nem sempre explorado de Palma e que, pela novidade e pela variação, só lhe caia bem. Um lado Jazz, a provar porque é considerado um pianista de excelência, onde a sua poesia assentava bem ao lado de Duke Ellington. Esse é um lado quase esquecido em Voo Nocturno. Ainda bem e ainda mal. Ainda bem pela diferença em relação a Norte, ainda mal porque se sente um travo amargo quando se pensa no que se podia ter tido.

Voo Nocturno é álbum protótipo de cantautor. Letras de grande projecção e prospecção, quer interior quer exterior, servidas por melodias simples, onde piano e guitarra se degladiam sem parte vitoriosa. Até aqui nada de novo, e ainda bem. O pior é que para a frente também nada de novo. Algures entre Dylan e Callahan, entre Godinho e Afonso, um pouco como sempre, com um bocadinho menos do sempre que sempre gostamos, Palma traz um Voo Nocturno onde algumas faixas se distinguem positivamente das outras. É o caso do single de apresentação “Encosta-te a mim”, do Rock em “Rosa Branca” ou de “Olá (Cá estamos nós outra vez)” tirado directamente do melhor Palma. O resto, como em “O Centro Comercial Fechou”, é a grande poesia de Palma à espera de melhores dias do grande compositor Palma. Para tira-teimas, dia 21 de Setembro, em Sinta.

Título: Voo Nocturno
Autor: Jorge Palma

Nota: 6/10

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