sábado, 6 de outubro de 2007

Sicko

Uma das figuras mais polémicas do cinema americano está de volta. E, na saga dos seus dois últimos filmes, a cultura política americana volta a ser o prato forte. Se em Bowling for Columbine investia contra a facilidade de compra e posse de armas e em Fahreneit 9/11 disparava contra a família Bush, em Sicko Michael Moore é herói de cruzadas contra as companhias de seguros de saúde e contra a falta de Serviço Nacional de Saúde no país mais rico do mundo.

Protejamo-nos à partida contra as investidas de criticas que chovem constantemente sobre Moore, em grande parte devido ao muito que incomoda. Sim, os seus trabalhos por vezes têm mais de filme que de documentário. Sim, é sensacionalista, manipulador, apela à emoção fácil e apenas é documental e rigoroso quando lhe interessa. Sim, em alguns dos seus filmes faz-nos crer algo que, na realidade, não se passou – como aliás tenta provar um documentário, agora a ser realizado contra si. Mas é também um homem de crenças, um lutador contra um regime demasiado implementado, demasiado corrupto e demasiado mentiroso. Michael Moore é um D. Quixote americano, empenhado nas suas causas e que não olha a meios para a alcançar. E, para além disso, é um grande realizador.

Caso único nos países ocidentalizados, ditos civilizados, nos Estados Unidos não existe o conceito de Serviço Médico gratuito. Todo o sistema está baseado na capacidade financeira dos seus cidadãos em adquirir um seguro de saúde, situação que, obviamente, favorece as companhias de seguro e desprotege o terço da população americana que não se pode permitir a adquirir um seguro de saúde. O cerne do documentário de Moore toca em mostrar esta realidade do ponto de vista do que não têm possibilidades de adquirir o seguro ou, pior, dos que têm mas se vêem defraldados pelo mesmo. Aliás, a parte mais impressionante do filme serão mesmo os casos que demonstram o carácter puramente capitalista das ditas empresas.

E, para impressionar, podemos contar com Moore. Desde pessoas a cozer o próprio joelho, a atendimentos em Cuba de voluntários do 11 de Setembro, passando pela ridicularização do sistema americano aos olhos de habitantes do Canadá e Europa. Moore é, como sempre foi, exímio e extrair emoções dos seus documentários. Prepare-se para rir, para chorar, para se sentir compelido a actuar, tudo por um sistema que, como aliás verá ao longo do filme acontecer com outras pessoas, simplesmente não faz sentido aos nossos olhos.

Título: Sicko
Realização: Michael Moore
Elenco: Reggie Cervantes, John Graham, William Maher e Michael Moore
E.U.A., 2007.

Nota: 7/10

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