
Seu Jorge alia assim o seu Brasil com a sua América. O que de melhor soube tirar de ambos ou que de mais pessoal vive em cada um. Não apenas em termos musicais. Embora um pouco menos do que em Cru, América Brasil encontra um dos seus pontos fortes nas letras ora lacerantes ora ironizadas daquele que é também um dos melhores escritores de canções no Brasil actual. E para quem pudesse duvidar da influência que os Estados Unidos exercem sobre Seu Jorge, ele trata de confirmar todas as suspeitas, quer no som (aquele é o Rock e aquele é o Country que a América nos ensinou) quer no nome do álbum, quer na primeira música do mesmo (“América do Norte”)
O álbum começa invasivo, mexido e premonitório com a já citada “América do Norte” e segue em igual ritmo através da crítica social sentida de “Trabalhador” e da ironia bem-disposta de “Burguesinha”, todas três grandes músicas, elementos de síntese no que ao Samba-Rock diz respeito. Depois segue em lume brando e sem interesse de maior – o que é pena e torna o álbum desigual – até chegarmos a uma dupla de grande valor. “Só no Chat” é música que promete revolução em palco, feita de crescendos Rock e de ritmos irrequietos a serem usados em prol de uma letra de grande sentido de humor. “Samba Rock” é música conceito que sintetiza tanto o som que é o novo Brasil como o brasileiro que nele vive, sem esquecer a omnipresente cultura norte-americana. Samba Rock em “Samba Rock”. Segue a festa até ao panfleto final de “Voz da Massa”, espécie de festa numa favela da Cidade de Deus.
Há vida e fulgor neste Rock brasileiro. Há uma voz e uma alma, há algo a dizer e há uma forma de o fazer. América Brasil fica ligeiramente aquém dos antecessores, especialmente de Cru, mas chega para afirmar Seu Jorge como o porta-estandarte da nova música brasileira e para nos deixar admiradores confessos daquilo que, muito por culpa deste homem, se decidiu chamar Samba Rock.
Título: América Brasil
Autor: Seu Jorge
Nota: 7/10
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