quinta-feira, 6 de março de 2008

América Brasil

Quando Seu Jorge, então conhecido por Mané Galinha, surgiu, qual estilhaço, na sequência do impacto gigantesco de Cidade de Deus, poucos adivinhariam o sucesso que viria a ter. Para além de participações em Hollywood e duetos musicais, são os álbuns Cru e Samba Esporte Fino os seus principais cartões de visita. Cartões de visita de um dos principais músicos brasileiros contemporâneos que soube recriar o género Rock brasileiro, fundindo, na perfeição, elementos da sua natureza com os sons que importou do estrangeiro, em especial da América. Assim nasce o seu Samba-Rock, uma das melhores coisas que aconteceu à música brasileira para sair do saco de banalidades em que, por vezes, parecia embrenhada.

Seu Jorge alia assim o seu Brasil com a sua América. O que de melhor soube tirar de ambos ou que de mais pessoal vive em cada um. Não apenas em termos musicais. Embora um pouco menos do que em Cru, América Brasil encontra um dos seus pontos fortes nas letras ora lacerantes ora ironizadas daquele que é também um dos melhores escritores de canções no Brasil actual. E para quem pudesse duvidar da influência que os Estados Unidos exercem sobre Seu Jorge, ele trata de confirmar todas as suspeitas, quer no som (aquele é o Rock e aquele é o Country que a América nos ensinou) quer no nome do álbum, quer na primeira música do mesmo (“América do Norte”)

O álbum começa invasivo, mexido e premonitório com a já citada “América do Norte” e segue em igual ritmo através da crítica social sentida de “Trabalhador” e da ironia bem-disposta de “Burguesinha”, todas três grandes músicas, elementos de síntese no que ao Samba-Rock diz respeito. Depois segue em lume brando e sem interesse de maior – o que é pena e torna o álbum desigual – até chegarmos a uma dupla de grande valor. “Só no Chat” é música que promete revolução em palco, feita de crescendos Rock e de ritmos irrequietos a serem usados em prol de uma letra de grande sentido de humor. “Samba Rock” é música conceito que sintetiza tanto o som que é o novo Brasil como o brasileiro que nele vive, sem esquecer a omnipresente cultura norte-americana. Samba Rock em “Samba Rock”. Segue a festa até ao panfleto final de “Voz da Massa”, espécie de festa numa favela da Cidade de Deus.

Há vida e fulgor neste Rock brasileiro. Há uma voz e uma alma, há algo a dizer e há uma forma de o fazer. América Brasil fica ligeiramente aquém dos antecessores, especialmente de Cru, mas chega para afirmar Seu Jorge como o porta-estandarte da nova música brasileira e para nos deixar admiradores confessos daquilo que, muito por culpa deste homem, se decidiu chamar Samba Rock.

Título: América Brasil
Autor: Seu Jorge

Nota: 7/10

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