domingo, 19 de abril de 2009

The Hazards Of Love



Surpreendentemente, o quinto álbum da banda liderada por Colin Meloy segue muito mais o trilho deixado em aberto pelo antecessor The Crane Life – conceptual, tanto na sequência global do álbum, como na construção intrínseca das músicas (veja-se o longo medley "The Island/Come And See/The Landlord’s Daughter/You’ll Not Feel The Drowning") – do que propriamente o sadcore vitoriano ‘folky’ dos três primeiros álbuns. Sendo assim, The Hazards Of Love não é uma colecção de canções, mas sim uma história de amor contada através de canções. Literalmente. No álbum são apresentadas três personagens: Margaret, William e a malévola Rainha da Floresta. Resumidamente, Margaret e William apaixonam-se perdidamente, e a Rainha da Floresta, mãe de William, opõem-se ao namoro do filho. O desenrolar dos acontecimentos é cíclico e algo repetitivo, embora traga alguns componentes interessantes do ponto de vista musical: cada personagem é interpretada por um cantor diferente, o que traz ar fresco ao legado da banda, algo abafado pela voz nasalada e interpretação pentatónica de Colin Meloy. A Margaret foi atribuída a voz cristalina de Becky Stark e à Rainha a voz poderosa ‘à la PJ Harvey’ de Shara Worden.


No entanto, o que mais diferencia The Hazards Of Love dos seus antecessores é o componente progressivo dum hard-rock puro, nunca antes experimentado pela banda de Portland. Cheguei mesmo a interrogar-me se estava perante um álbum dos Black Mountain, devido às riffs muito ‘blues-rock’ de “Won’t Want For Love”, repetidas na segunda parte de “The Wanting Comes In Waves/Repaid” e mais tarde em “Margaret’s In Captivity”. Mas os três interlúdios (“Isn’t It A Lovely Night?”, “An Interlude” e “Annan Water”) apresentados vão beber demasiado ao indie-folk dos álbuns antecessores, por forma a que The Hazards Of Love nunca soe a algo realmente novo.


A construção do álbum é algo confusa, constituindo um emaranhado cíclico de quatro temas principais, mas pode ser dividida globalmente em três boas sequências melódicas: a que se inicia em “A Bower Scene” (onde é apresentado um dos temas principais, repetido em “The Abduction Of Margaret”, com um inesperado abrandamento rítmico, utilizando uma poderosa distorção) e termina com o crescendo de “The Hazards Of Love II (Wager All)”; a que se inicia com o tema muito ‘90’s “The Rake’s Song” e termina com a fabulosa interpretação de Worden acompanhada pelas riffs explosivas de “The Queen’s Rebuke/The Crossing”; e, por fim, a sequência que encerra o tema musical do álbum, iniciada em “Margaret In Captivity” e terminada com o relembrar de “The Wanting Comes In Waves (Reprise)”. O álbum encerra com a morte trágica dos dois amantes, traduzida pelo folk comovente de “The Hazards Of Love IV (The Drowned)”, ampliado pela segunda voz gélida de Becky Stark.


The Hazards Of Love peca apenas por se restringir a uma única tonalidade, correndo o risco de se assemelhar a um medley de 60 minutos. Quando temos em conta temas como o recente “If You Keep Losing Sleep” dos Silverchair ou o antiguinho, porém genial, “Day In The Life” dos Beatles, percebemos que não tem que ser a tonalidade a garantir a coesão conceptual da música/álbum. De qualquer modo, The Hazards Of Love é uma boa surpresa para os aficionados do rock progressivo e conceptual, bem como para os que têm vindo a acompanhar o percurso musical dos Decemberists.


Título: The Hazards Of Love


Autor: The Decemberists


Nota: 7/10

Sem comentários: