sexta-feira, 29 de junho de 2007

The Temple Bell

“É um facto que muitas bandas recorrem ao inglês para disfarçarem um vazio de ideias, mas cada caso é um caso, não se pode generalizar. Atente-se ao trabalho de artistas como o Old Jerusalem, por exemplo. É bem visível que aquilo é feito de forma genuína.”
The Weatherman em entrevista ao Espaço de Crítica Artística

Por esta altura, o nome de Old Jerusalem dispensará já as costumeiras apresentações. Ainda assim, porque as formalidades assim o obrigam, digamos que é do projecto de Francisco Silva de que falamos. Diga-se ainda que se trata do terceiro álbum, que dá pelo nome de The Temple Bell e que sucede os belíssimos April e Twice the Humbling sun. Eram dispensáveis estas apresentações tão somente porque Francisco Silva, sob o nome de Old Jerusalem, se tem vindo a afirmar como um dos mais importantes, e distintamente originais, cantautores portugueses. E, senão o melhor, dos melhores a fazê-lo em inglês. Sobre ele, a propósito deste novo trabalho, escreveu Pedro Mexia, escritor que, num segundo a propósito, está prestes a lançar 2 livros:

“A melancolia da anatomia. Quem reconhece em «Old Jerusalem» o título de uma canção de Will Oldham imediatamente imagina uma genealogia de melancólicos americanos (essa que inclui Bill Callahan, Damien Jurado, os Mountain Goats e outros). Francisco Silva, o mentor deste grupo de geografia variável chamado Old Jerusalem, nunca escondeu as suas influências e afinidades.”

Este é um trabalho de consolidação. Onde se percorrem tema recorrentes, mas salutarmente revistos, da escrita do músico. Onde se estabelece um padrão, onde se desenha uma coesão na sua carreira. Há um grande cantautor neste economista de profissão. As melodias simples dos seus acordes casam-se com as melodias melancólicas das suas belas letras. Há aqui uma vastidão de sentimentos que exalam de The Temple Bell e invadem quem por lá se aventure. Há melancolia e há vastidão. Mas há, acima de tudo, a sensação de sermos convidados para sua casa, para um recanto intimo e pessoal, de estarmos a espreitar por uma frincha na porta. Old Jerusalém é este sentimento de pertença à sua vida através da sua música. Onde as distâncias entre a pessoalidade do musico e a do ouvinte se fundem, mantendo, ao mesmo tempo, a reserva necessária. Confuso? Não se admire se se encontrar a divagar. Faz parte da magia.

Portugal sempre foi um terreno fértil para os cantautores. Dos reformistas aos intimistas, dos lutadores aos reservados. Este não é mais um. É Old Jerusalem.

Título: The Temple Bell
Autor: Old Jerusalém

Nota: 7/10

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