sábado, 14 de novembro de 2009

Substitutos


O bom da ficção científica é a sua capacidade de antever. A imaginação e a criatividade à deriva a chegar a resultados aparentemente inverosímeis mas, enquanto manifestação da direcção de um determinado tempo, uma proto-realidade. É certo que a parte metafórica do género também tem algum interesse. Qualquer filme de ficção científica que se preze pega na realidade do seu tempo e mostra-a de novo à luz da concepção futurista que o seu autor inventou. O que quase nunca interessa e não são mais que fait-divers são as barulhentas sequências de combate, perseguição ou qualquer outro frenesim espalhafatoso que mais não serve do que para agradar aos mais desesperados por acção mentalmente atordoadora mas, enquanto entretenimento, eficaz. Daí que o filme de Mostow esteja condenado à partida. De antevisão temos zero. A história só fala do que já conhecemos e nada novo mostra - entre Matrix, I Robot e uma passeio na net pelo Second Life, está tudo visto. Funciona enquanto crítica social a um civilização que se deixou manietar pelo maravilhamento tecnológico, lá isso é verdade. Mas, sejamos sinceros, de heroís que nos salvassem do demónio tecnológico, nos últimos anos, temos estado bem servidos. Era preciso um bocado mais qualquer coisa do que vir dizer, outra vez, como se não soubéssemos já, que as máquinas não são boazinhas e, mais tarde ou mais cedo, perante elas pereceremos. Fisica ou emocionalmente.
Também é verdade que há um ou outro ponto em que Substitutos se diferencia da panóplia costumeira de ficção cientifica "cuidado com a tecnologia". Especialmente quando foca o filme numa verdadeira rede social de avatares. Tudo o que Mostow tinha para dizer, se é que era ele que tinha isto a dizer, está dito aí, é bonito, mas cedo acaba. Depois, resta um desfile de tragédias. A música melodramática com que filma longamente a cara de Bruce Willis para percebermos que o seu filho morreu é desnecessária e incomodativa, para além de despropositada. A princípio percebemos a opção por substitutos abrilhantados e arrobotizados, mas com o avançar do filme a paciência perde-se rápido. Mais, alguém tem de parar um pouco Hollywood e avisar que a reviravolta, o twist, só funciona nestes filmes se, em pelo menos um, ela não for feita. E há ainda Bruce Willis. Um homem que, tenho a convicção plena, passa o dia sentado à espera que lhe liguem para, uma vez mais, fazer o papel de polícia bom que vai contra as regras e acaba a salvar o mundo sozinho. Parece íngrato para um homem só, especialmente quando acontece repetidamente, mas alguém tem de o fazer. Sorte a dele que às vezes ainda vão chatear o Will Smith.
Título: Substitutos
Realizador: Jonathan Mostow
Elenco: Bruce Willis, Ving Rhames e Rosamund Pike .
E.U.A., 2009.
Nota: 5/10

Sem comentários: