domingo, 7 de dezembro de 2008

Amália, o Filme


Que Carlos Coelho da Silva, o realizador de Amália, assine também O Crime do Padre Amaro, essa miserável e novelesca adaptação aos tempos modernos da obra de Eça de Queiroz, não parece ser grande surpresa. N'O Crime do Padre Amaro salvava-se o corpo de Soraia Chaves, em Amália salva-se Sandra Barata Belo - não só o corpo, mas um belo trabalho de reprodução e de construção de personagem. Tudo o resto vive da mesma concepção de cinema, ou da ausência dele. Amália não passa de uma mini-série que parece apenas viver da história dramática da personagem principal que explora, com tiques de telenovela inexperiente, até à lágrima fácil. Explora mais o enquadramento de Amália numa das histórias clichés de novela da noite (pobre apaixona-se por rico e a história corre mal) do que a vida de Amália propriamente dita. Depois, para piorar tudo isto, encorre numa americanização óbvia do filme o que torna tudo ainda mais inconsequente, e serve-se de um modelo que se esgota nele próprio porque não tem explicação nem é acompanhado por um sentido geral de cinema. Amália corre num constante corropio que alterna entre as várias fases da vida de Amália e que, sem nexo aparente, varia entre flashbacks e flashforwards de maior ou menor importância.
Mas nem só isto é mau nesta mega-produção portuguesa. A sonoplastia do filme é de um amadorismo atroz - todas as personagens parecem ter engolido um microfone - criando uma aura de falta de realismo em muitas cenas. Não contentes com este som atroz e com esta construção de cenas que faz escola na TVI, alguns actores, influenciados ou não pelo contexto em que tudo isto decorre, parecem capazes das piores prestações relembrando-nos sempe como talvez fossem bons modelos. Actores, não.
Mas nem tudo é mau em Amália, ao contrário do que parece. Era uma oportunidade de pôr o público português ao corrente de parte da história da sua maior diva de sempre. Não totalmente aproveitada, e mais ou menos adulterada, fica a hipótese de um olhar sobre Amália que muitos desconheciam. Fica Sanda Barata Belo, uma bela actriz que só não chega mais longe em Amália porque o filme não permite mas que não fica a deve assim tanto a outras actrizes que em filmes semelhantes se celebrizaram - como Marion Cotillard, por exemplo. E fica, acima de tudo, uma revisão à música de Amália, aquilo que verdadeiramente importa. A história de Amália dava, de facto, um filme. Não este.
Título: Amália, o Filme
Realizador: Carlos Coelho da Silva
Elenco: Sandra Barata Belo, Carla Chambel, Ricardo Carriço, Ricardo Pereira, António Pedro Cerdeira, José Fidalgo, Ana Padrão, Maria Emília Correia, André Maia, João Didelet, Sofia Grillo, Lourdes Norberto, António Montez, Leonor Seixas, Mariana Monteiro e Natália Luíza
Portugal, 2008.
Nota: 3/10

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim, provavelmente por isso e