quinta-feira, 7 de maio de 2009

Almoço de 15 de Agosto


Quase tudo em Almoço de 15 de Agosto transpira teatro. Começa no cenário, praticamente resumido a uma casa, quase a uma sala e uma cozinha, minimalista e simples. Depois na forma como tudo vive das personagens - mais do que "o que se passa" interessa-nos a forma elas fazem tudo passar-se. Se Almoço de 15 de Agosto se passasse num cenário único, não seria um filme muito pior. Há muito poucos filmes de que possamos dizer isto. Quando saimos de casa com Di Gregorio, há toda uma lição de cinema que o realizador - e actor e biografista de si mesmo - faz questão de si mesmo. Desde um piscar de olhos ao realismo cinematográfico - que tanta escola fez em Itália -, aos passeios de motorizada pela cidade com o Coliseu ao fundo - Moretti vem imediatamente à memória - até chegar aos belíssimos enquadramentos que, pela sua câmara, nos recordam que o cinema já teve uma estética e uma forma de encenar a imagem.
O fundamento de Almoço de 15 de Agosto é simples - como convém às boas comédias de costumes. Um homem vive com a sua mãe doente e, por dinheiro e por incapacidade de fuga, vê-se na posição de albergar mais 3 idosas na sua casa. O que a princípio parece um incómodo para todas, rapidamente resvala para um encontro de 4 mulheres ansiosas por companhia e conversa. Enquanto ele, incansável na sua bonomínia pachorrenta de sorridente falhado, se desdobra em atenções e provações, elas mostram um reavivar da sua esquecida vitalidade. Há mais leituras sociais escondidas do que aquelas que Gianni Di Gregorio estava interessado em expôr. O realizador parece mais interessado em contar a história - que é a sua - da comédia por trás do drama da solidão da idade e acaba a conseguir um simpático retrato de um verão em Roma vivido por quatro velhas e um bonacheirão a caminho do mesmo. Mas, quase no simples gesto com que o senhorio larga as idosas e foge, está todo um entendimento social sobre p envelhecimento que, claramente, o realizador percebe mas não quer contar.
Que esta seja a história veridica de Gianni Di Gregorio interessa tanto mais quanto, à medida que avançamos no filme, temos uma mais clara noção de que tudo aquilo nos parece real. A antítese da representação - que teve, outra vez, tanta escola em Itália - está nisto mesmo. Na capacidade de tornar real. Esquecemo-nos de que há actores e vivemos com eles. No meio de tanta pretensa comédia que nos impigem, há quase uma impossibilidade de não ver algo de ternurento em Almoço de 15 de Agosto. Como a média de idades em cena. Ou uma velhota que se delicia com uma lasanha proibida. Ou uma tasca de bairro onde se vende fiado e se bebe vinho branco ao cálice.
Título: Almoço de 15 de Agosto
Realizador: Gianni Di Gregorio
Elenco: Valeria de Franciscis, Marina Cacciotti, Maria Calì, Grazia Cesarini Sforza, Alfonso Santagata, Luigi Marchetti, Marcello Ottolenghi, Petre Roso e Gianni Di Gregório.
Itália, 2008.
Nota: 6/10

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