segunda-feira, 16 de março de 2009

Watchmen


Era de boa vontade e de espírito aberto que se entrava no cinema - ainda que rodeado de trintões fascinados e preconceituosamente maravilhados com o filme. Watchmen é, cortando caminho e abreviando - conceitos pouco caros a Zack Snyder -, um filme aborrecido e falhado. Despachando já o óbvio, há um Watchmen filme e um Watchmen BD. Felizmente, ainda não li a BD. Felizmente porque, apesar do medíocre filme, se percebe a léguas que a novela gráfica, assinada pelo brilhante Moore, é em tudo superior ao filme e não merece este cartão de visita. Acabou a paciência para o argumento de que este é o filme que transforma os heroís de banda desenhada em material para adultos. Há anos que isso acontece no cinema e há ainda mais tempo que todos já perceberam isso no mundo da BD. Não há rigorosamente nada de novo no facto, em si, de metáforas sócio-politicas e status quos económicos por detrás de homens transvestidos. Não há nada de excitante em atirarem-nos à cara que existe uma parábola em cada BD. Isto existe na grande maioria das novelas gráficas e, consequentemente, nas suas adaptações cinematográficas. É a qualidade destas metáforas, a construção das mesmas e das suas personagens e a qualidade e originalidade gráfica que fazem da novela uma boa novela. Que a esta altura do campeonato ainda rejubilemos só por alguém se levar demasiado a sério a falar de super-heroís, sabe a pouco.
Admito que talvez haja algum preconceito pela presença do incompetente Snyder por detrás desta adaptação - havia algo de tão obviamente redutor em 300. Talvez haja algum preço a ser pago por Watchmen, inadvertidamente, por suceder, nos filmes do género, ao inigualável e soberbo Cavaleiro das Trevas. Mas, independentemente, nada há em Watchmen que realmente valha a pena. O que há de bom no filme, e torna-se claro até para quem não leu o livro - isto se conhecer Moore e se conhecer Snyder -, é o que há de bom na novela gráfica. O que há de mau no filme é o que está em livro e teve de ser encaixotado a pontapé no absurdo tempo de filme. Watchmen seria um bom filme publicitário a levar a ler a BD - e, mesmo assim, talvez fosse preferível lançar alguns folhetos pela cidade. Mas não é isso que ambiciona. Ambiciona ser o retrato sério, fiel e completo da história que conta. E, nisso, falha a todos os níveis - do ponto de vista do não leitor da BD, claro está. Para nos integrar - mania irritante de tomar o público por senil - torna-se repetitivo e exageradamente auto-explicativo, criando um redemoinho de ideias que causa lapsos narrativos. Ainda por isto, alonga-se até ao bocejo e anula-se na contemplação exagerada dos seus próprios efeitos, usados sem fim aparente senão a própria utilização. As opções gráficas repetem-se e perdem a magia da quadrícula, as personagens não têm densidade e são desiguais - excepção para o Rorshach de Jackie Earl Haley - e a narrativa é centrífuga e irregular.
Título: Watchmen - Os Guardiões
Realizador: Zack Snyder
Elenco: Malin Akerman, Billy Crudup, Matthew Goode, Jackie Earle Haley, Jeffrey Dean Morgan, Patrick Wilson, Carla Gugino, Matt Frewer e Stephen McHattie
E.U.A., Reino Unido e Canadá, 2009.
Nota: 4/10

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