quarta-feira, 28 de maio de 2008

O Lado Selvagem

O Lado Selvagem, filme adaptado e realizado pelo enorme actor Sean Penn, aqui transformado em defensor de uma vivência perdida na sociedade de hoje, é a adaptação do livro de Jon Krakauer e baseia-se na história de Christopher McCandless. Quando conclui a Universidade, doa as suas poupanças, abandona a vida de mordomias burguesas que a classe média tanto preza e lança-se numa aventura cujo destino final é o Alaska mas cujo verdadeiro paradeiro é a viagem. Pela América e por si próprio. Viajar pelo desconhecido e reencontrar um viver verdadeiro, essencialmente verdadeiro, que, julga, a sociedade actual perdeu de vez com o caminho que tomou. Adopta um novo nome, estabelece novas e inusitadas relações, e vive uma vida nómada e incerta, baseada apenas nas suas necessidades, na sua procura e na sua fuga.
É aqui que O Lado Selvagem se torna interessante. Quando a viagem do jovem rebelde citador de Thoreau se torna tanto uma procura como uma fuga. É aqui que ele se torna realmente um homem e este filme se faz mais que um exercício independente de insubordinação anti-burguesa (o que também não seria totalmente mau). Na procura temos o lado social deste filme. A denúncia e a revolta contra uma sociedade eminentemente egoísta e que se esqueceu de quem é e de onde veio para se centrar em valores que não são, na verdade, essenciais nem visceralmente humanos. Na fuga temos o lado humano. O jovem rebelde que vê um passado de abusos paternais à mãe e que vê na fuga de casa e na descoberta de si e dos outros um libertador método de catarse. O resultado da soma é feito à custa de bastante poesia - quer nas palavras que cita, quer nas imagens que pintam o filme - e revela-nos uma personagem bastante interessante mas nunca mais que um retrato dramatizado para nos fazer reflectir à força.
O Lado Selvagem tinha tudo, à partida, para ser um filme motivador. Do irreverente Sean Penn, com banda sonora original do não menos indie Eddie Vedder e com Emile Hirsch no principal papel, respira-se uma eremita subversão desde o início. De Sean Penn nota-se o delicado tratar da história até a tornar num objecto demasiado lapidado, preformatado para um filme tipo de intenções claras. De Eddie Vedder temos o seu lado mais pessoal, mais calmo que nos seus Pearl Jam, mas de uma pacatez que em tudo se coaduna com este filme e não com o lento murchar a que os Pearl Jam às vezes se dedicaram nos últimos anos. De Emile Hirsch percebemos tudo, pelo seu rosto, pelo seu corpo, que tão bem consegue personificar as duas faces de McCandless. E temos, em verdade, na verdade que a personagem tanto busca, um filme motivador. Demasiado programado na sua beleza para nos emocionar e motivar, mas mesmo assim não deixa de o fazer.
Título: O Lado Selvagem
Realizador: Sean Penn
Elenco: Emile Hirsch, Marcia Gay Harden, William Hurt, Jena Malone, Catherine Keener, Vince Vaughn e Kristen Stewart
E.U.A., 2008
Nota: 6/10

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