quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Eu Sou a Lenda

De memória, e sem grande esforço, recordo-me de Will Smith ter salvo a humanidade pelo menos 5 vezes, entre Eu Sou a Lenda, Eu, Robot, Dia de Independência ou os dois Men in Black. Isto sem contar com algumas vezes em que, não salvando a humanidade, ainda foi importante na luta contra o crime, como nos dois Bad Boys. Parecendo que não, este homem já merecia uma medalha. Mas a verdade é que esta apetência de Will Smith para o papel de herói (solitário ou não) tem vindo a tornar-se aquilo que os provérbios populares designam de uma faca de dois gumes. Por um lado, Smith vai-se polindo e chegando ao herói de consistente porte físico e de algum modo marginalizado ou distante da sociedade (como em Eu, Robot e neste Eu Sou a Lenda). Por outro, à custa de tanta exploração do filão, os seus filmes de acção vão se tornando previsíveis e desprovidos de interesse de maior.

Eu Sou a Lenda não foge à regra, mas é ao mesmo tempo excepção à regra. Confusos? Há Will Smith, o herói, o solitário com piada e que nos cativa, mas que está disposto a uma boa dose de pancadaria – mesmo que para vingar a sua cadela. Mas não há um filme de acção típico, escondido por trás de um artefacto de uma história que o tenta fazer parecer mais profundo do que o seu enredo na verdade lhe permite (como no caso de Eu, Robot). Eu Sou a Lenda é, até ao ponto em que a história abalroa o que até aí se tinha construído, uma boa descrição da solidão de um homem, dos seus mecanismos de defesa, de recalcamento, de adaptação e transformação. Bocados de Freud e pedaços de Darwin.

A cura do cancro, sob a forma de um vírus mutado, acaba por gerar uma pandemia criada pelo próprio vírus, que suscita uma mutação na raça humana, tornando-a desumana, feérica e irracional. Desconhecendo se está só ou não, um sobrevivente prossegue a sua vida em Nova Iorque. Durante três anos, Robert Neville, um cientista do exército, vive entre a procura de uma cura para o vírus e a procura de um sentido para a sua estranha forma de vida. É este o cenário em que apanhamos Eu Sou a Lenda. É numa Nova Iorque deserta que vemos passear Neville (Smith). É aqui que vamos vendo como um só homem pode encher uma tela, como pode ser poderoso, às vezes vencendo mesmo uma história que não convence, mas provando que há, por trás do herói de acção, um bom actor. Depois chega a acção desenfreada e nem sempre vestida de grande significado, o ritmo alucinante mas trôpego e o desencadear demasiado súbito e mal explorado de uma história com muitas pontas mal cozidas.

Francis Lawrence, o realizador, consegue trazer para o filme o que seu Constantine conseguia aqui e ali. A noção de filmar um só homem e a criação de um ambiente muito pessoal. O resto é mesmo Will Smith e algumas metáforas interessantes – o dia e a noite – que se devem mais ao livro original do que ao filme. A grande indecisão é saber se desejar mais um filme do género com Will Smith. O que prevalecerá, o apuramento da técnica ou o cansaço da repetição?

Título: Eu Sou a Lenda
Realizador: Francis Lawrence
Elenco: Will Smith, Alice Braga, Charlie Tahan e Salli Richardson
E.U.A., 2007

Nota: 6/10

1 comentário:

B. disse...

Esperava um filme bem pior.

É um remake de um filme de série Z dos anos 60, "Last Man On Earth", que é muito parecido, mas com zombies e muito pior filmado.

O Will Smith é um bom actor, não é o De Niro nem o Brando, mas é um bom actor. E mostra-o neste Cast Away urbano, em que o "Wilson" é uma cadela viva. NYC vazia e degradada está fantástica, e apetece a qualquer um andar a acelerar naquele Ford Mustang pelas avenidas vazias de Manhatan.

Acho que é um bom filme de acção, e a ligação ao digital está bem feita.

Vi em projecção digital, e é fantástica a diferença, muito bom.

PS: O grande papel dele para mim ainda é o "Ali", mas é um senhor que sabe representar muito bem, e prova-o neste filme novamente.