quinta-feira, 8 de maio de 2008

Irina Palm

O papel do sexo no cinema tem vindo a alterar-se ao longo dos anos. O principal motivo disto é uma completa massificação do mesmo. Raramente se trata já de uma temática, mas mais de um aspecto natural e constituinte do cinema. As relações sexuais das personagens são quase sempre exploradas como expressão máxima do nosso lado voyeurista. Aparte todas as vantagens possíveis, estéticas ou sociais, há uma grave consequência cinéfila deste facto. A grande maioria das cenas de sexo e a maioria das abordagens ao tema remetem-se para uma repetição monótona de alguns protótipos. Os filmes que conseguem sair desta monotonia sexual optam, geralmente, ou por uma visão alternativa do fenómeno ou por uma abordagem mais crua.
Num certo aspecto, Irina Palm é um bom contributo para abordar todo este tema em cinema de forma diferente. Não necessita da violência do sexo explícito para ser mais agressivo. Não usa as relações sexuais como apenas mais um plano que em nada enriquece o filme. O sexo, mais propriamente neste caso a masturbação, é usada como mero contraponto entre duas vidas. A personagem do filme, a dado ponto, começa a viver uma vida dupla e é a masturbação o facto que despoleta quer os contrastes sociais quer os pessoais.
Maggie é uma dona de casa inglesa na casa dos 50 anos. O seu neto adoece e os tratamentos de que necessita estão para além das possibilidades da sua família. Maggie procura um trabalho para conseguir ajudar nas despesas, mas a idade adiantada e a falta de currículo fecham-lhe todas as portas. Por mero acaso e por completo engano, entra num club de strip e acaba a trabalhar no ramo da masturbação. Para lá das dificuldades iniciais, o seu sucesso no ramo concede-lhe novas amizades, uma nova visão sobre si própria e um nome artístico: Irina Palm.
Há, para além de uma forma interessante de tratar a prostituição, um conjunto de aspectos que tornam Irina Palm um filme inteligente e diferente da maioria do género. A crítica social de Irina Palm, exposta numa visão de uma sociedade hipócrita e baseada no boato e na intriga, é subtilmente arranjada e, como o resto do filme, nega-se a figuras óbvias e repetidas. O drama pessoal da personagem principal, interpretada por Marianne Faithfull, é entre a sua existência pacata e conservadora e o papel a que se viu reservada para arranjar dinheiro. Mas esta experiência, este contacto com uma realidade diferente, revela-se, em vários aspectos, reveladora e libertadora. Há uma sociedade para além da redoma asfixiante das donas de casa conservadoras e falsas. E há sentimentos por encontrar, que Maggie descobrirá quando passar pela experiência de se tornar Irina Palm.

Título: Irina Palm
Realizador: Sam Garbarski
Elenco: Marianne Faithfull, Miki Manojlovic, Kevin Bishop, Dorka Gryllus e Siobhan Hewlett
Bélgica, França, Reino Unido e Luxemburgo, 2007

Nota: 7/10

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