terça-feira, 11 de novembro de 2008

Black Diamond


Das correntes mais em voga hoje, e para percebê-lo basta ler a grande maioria das revistas da especialidade, é esta renovação da world music que traz alguns dos ritmos mais locais para uma formatação internacional, na grande maioria dos casos com enorme vocação para a pista de dança. Assim surgem nomes como CSS, M.I.A., Santogold ou Bonde do Rolê. Mesmo quando o caso não é a incorporação na pista de dança, são os sons da World Music que dão cartas na identificação de algo novo - e vêm-me à cabeça, subitamente, os Vampire Weekend e os sons africanos que correm no seu Rock. Como não acontecia à muito, Portugal finalmente tem uma palavra a dizer. Quando From Buraka To The World surgiu a questão era mais saber o quão cool era aderir ao hype do que propriamente perceber o fenómeno. Mas, como invariavelmente acontece com algo de verdadeiramente bom, a questão rapidamente passou a ser até onde podem ir os Buraka Som Sistema. A resposta ainda está por dar.
Progressivo ou não, o Kuduro de que a banda se alimenta tem tudo aquilo que necessita para ser incontornável. É visceral, intuitivo, fresco e impele, incontroladamente, para o movimento. Assim foi como tudo começou. Numa pista de dança duma discoteca lisboeta - impossível esquecê-los no Lux - até chegarem a um ponto de quase consenso nacional. Pelo menos chegaram aquele ponto onde se torna desconfortável dizer mal, o que diz bem da influência que, subitamente, adquiriram. Primeiro vieram os convites cá dentro - interessante remistura para a música-de-verão dos Da Weasel em Amor, Escárnio e Maldizer - e depois veio a integração, em pleno, nesse novo conceito de World Music que invade o mundo. Deixámos de ter os países menos desenvolvidos a mandar música para nós, agora os seus filhos são nossos vizinhos e fazem-na ao nosso lado.
Black Diamond é tudo isto junto, em formato álbum e com qualidade. Ao contrário de From Buraka To The World traz um alinhamento mais notório e menos um conjunto de nós-fizemos-isto-agora-oiçam. Perde-se alguma daquela força que apenas quem nunca editou pode ter mas ganha-se no conjunto. O resto é a New World Music. Não tanto que a música seja nova, mas o mundo é. É um mundo de cruzamentos, de identidades misturadas e de nacionalidades que se notam pelo som. Se isto está presente nos próprios Buraka - que parecem ter cada vez mais ligações ao som de Luanda e às raízes do Kuduro - mais ainda se nota nas participações. Dj Znobia acentua o eixo Lisboa-Luanda; Deize Tigrona mete um pé de Funk Brasileiro na pista de dança e M.I.A. confere o toque internacional que Black Diamond já não precisava.
Título: Black Diamond
Autor: Buraka Som Sistema
Nota: 7/10

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