sábado, 29 de dezembro de 2007

American Gangster

O sonho americano é isto mesmo. De nada criar algo. Frank Lucas, que o filme Gangster Americano retrata, fê-lo com o negócio da droga. Jay-Z fê-lo dentro da industria discográfica do Hip-Hop. Seja a ascensão de um negro por si próprio, seja a força de Lucas, seja a força do filme, algo em Gangster Americano despertou em Jay-Z a vontade de compôr um álbum baseado no filme. Assim nasceu American Gangster que, não sendo uma banda sonora – já que Scott procurou os sons dos anos 70 a que o filme remete –, é um trabalho conceptual de recriação do filme em música. As ideias, o ambiente e o conceito do filme de Scott estão também no cd de Jay-Z.

Em 1998 já Jay-Z participara na banda sonora de Streets is Watching, mas este American Gangster é um trabalho pessoal e completo. Pessoal pelas mais diversas razões. As vidas de Lucas e Jay-Z parecem tocar-se. Quer na atitude, quer no facto de também Jay-Z ter traficado droga quando adolescente. Ninguém como ele, portanto, para perceber o fenómeno que o filme de Scott tenta mostrar. Essa é a grande conquista de American Gangster, o álbum. Percebe, completa e, nalguns aspectos, melhora American Ganster, o filme. Jay-Z consegue uma fusão entre o ambiente dos anos 70 que o filme retrata e o ambiente actual suburbano norte-americano. Os mesmos problemas, os mesmos adolescentes, a mesma droga. Este paralelismo está presente na música de Jay-Z.

Para Jay-Z este é também um disco de reconciliação. Com o público e para a critica. Depois do desastre de Kingdown Come, American Gangster vem trazer o rapper às boas graças da crítica musical do género que vê neste novo álbum o renascer de um dos mais talentosos músicos. Se com o público Jay-z nunca teve problemas de maior, a verdade é que é com este álbum que ultrapassa alguns recordes pessoais, tornando-se um dos mais vendidos de sempre em solo americano. Onde está a chave deste sucesso? Poderia ser nos arranjos certeiros de Sean P. Diddy ou nos mais festivos do também conceituado Pharrel Williams. Ou poderia ser na participação de Nas ou Lil’Wayne. Mas isso, como todos sabemos, acontece um pouco por todo o lado.

O segredo deste álbum é ser um trabalho de dentro para fora. Um trabalho de antologia e revisão pessoal, de renascimento ao mesmo tempo, e ainda por cima apoiado num conceito já existente que suporta Jay-Z. American Gangster tem tudo. A força de Jay-Z, a necessidade deste recuperar o crédito musical e a vontade de cozinhar o filme de Scott de um modo diferente. O resultado é um álbum relativamente homogéneo, quase todo de boa qualidade, num registo mais calmo mas nem por isso menos incisivo, onde se ouvem grandes momentos como a voz de Marvin Gaye em “American Dreamin”. No ouvido vão ficar a voz seca de Lil’Wayne em “Hello Brooklyn 2.0”, a contagiante e muito 70’s “Roc Boys (and the winner is)” ou o bem escolhido primeiro single “Blue Magic”. O sonho americano é possível.

Título: American Gangster
Autor: Jay-Z

Nota: 7/10

Sem comentários: