segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Cintura


O que fazer depois de um album onde se consegue tudo o que aquilo a que se propôs? Esta é uma questão a que muitas bandas não sabem responder. Situação que ocorre vulgarmente depois de uma álbum de estreia de grande qualidade – dos Kaiser Chiefs aos Killers, exemplos é o que não falta – a resposta mais comum é a repetição da fórmula anterior. Sem o mesmo sucesso nem qualidade, obviamente. O caso dos Clã é diferente. Banda experiente e rotinada nas lides de ser uma das melhores bandas portuguesas, sempre soube recriar-se, reinventando-se. Umas vezes encontramo-los a solo, outras acompanhados. Umas vezes mais experimentais, outras mais assumidamente Pop. À pergunta que todas as bandas se colocariam no seu papel – O que fazer depois de um álbum quase perfeito e tão consagrado como Rosa Carne? – os Clã respondem com destreza, mestria e – aproveitando para despachar já o trocadilho cliché – bastante jogo de cintura.

Cintura não é um cd tão bom como Rosa Carne. Talvez nunca pudesse ser mas nem é essa a questão. Nem é um dos melhores trabalhos da carreira da banda Pop-Rock portuguesa. Mas é uma inteligente gestão de carreira e uma extrema prova de versatilidade da banda. Depois da textura agreste de Rosa Carne, a banda de Manuela Azevedo regressa com um objecto mais polido, mais limpo, mais Pop. Cintura é um álbum mais imediato – e por isso mesmo imortal – que nos agarra desde o inicio – também porque no inicio é que está a virtude. Um trabalho do mais Pop, do mais simples e eficaz que a banda já nos proporcionou. Não há grandes desvios nem imprevisibilidades. Também não há grandes tiradas de génio. Há apenas um trabalho sobriamente bem disposto, com a qualidade que a banda já demonstrou ser inerente.

Com participações do Legendary Tiger Man Paulo Furtado (na radiofónica “Tira a Teima”), de Fernanda Takai (em “Amuo”) e de Mário Barreiros (“Sexto Andar”), Cintura não ficará para a história dos grandes álbuns da década, talvez nem da discografia da banda. Cumpriu, pois, a sua missão de música Pop. Mas, não tenhamos dúvidas, algumas músicas são do melhor Clã. “Adeus Amor (Bye, Bye)”, “Fábrica de Amores”, “Pequena Morte” e “Narciso sobre rodas” são bons exemplos. Chegamos ao fim do trabalho com, como sempre em relação aos Clã, duas questões. Saber como será tudo isto revirado em palco – nunca esquecer que a banda é, acima de tudo, um animal de palco – e esperar, sem grandes possibilidades de adivinhação, pelo próximo álbum, sempre imprevisível.

Título: Cintura
Autor: Clã

Nota: 6/10

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