segunda-feira, 31 de março de 2008

Nação Hip-Hop 2008

As colectâneas, vulgos Best-of's, são um problema constante. Servem sempre como reprodução fiel de alguns clichés, contêm, nalguns casos, um ou outro tema interessante e são, com muito raras excepções, verdadeiras desilusões. Nação Hip-Hop 2008, a colectânea cujo nome é emprestado do programa da Antena 3, não é a excepção, é a confirmação de uma triste e repetitiva regra. As colectâneas do género são já, quando se limitam a um único cantor, exemplo tradicionalmente pouco representativo e descozido da sua carreira. Quanto ao resto, as compilações que entopem o mercado - e, em especial, os hipermercados -, são uma mera colecção de clichés.
E, nesse sentido, Nação Hip-Hop 2008 é rico. Temos os nomes mais sonantes a fazer figura e cartaz para chamar os rappers, Mc's e wannabe's todos a comprar o àlbum. Temos os singles mais óbvios a fazer de chamariz para a colecção caseira de alguns jovens mais desatentos ao mercado mp3. Temos alguns nomes interessantes que se limitam, sem qualquer risco, a atirar ao cd também o seu trabalho mais conhecido para igualar as estrelas. Temos nomes mais desconhecidos do grande público cuja música acompanha todas as tendências sufocantes do género a nível mundial, com o Hip-Hop tipificado e sem uma palavra original a dizer.
Chega-se a não perceber a quem favorece este trabalho. Aos grandes artistas não será, porque as suas músicas são já sobejamente conhecidas, tocadas, repisadas e analisadas. A alguns menos conhecidos, percebe-se o factor exposição, mas o tiro pode, efectivamente, muitas vezes sair pela culatra. Colocar uma única música num trabalho deste género é tirá-lo, muito provavelmente, de um contexto ou conjectura que é o seu habitat natural e misturá-lo num conglomerado que se emiscue sem qualquer sentido aparente, podendo mesmo mascarar algum verdadeiro talento.
Posto isto, pouco se salva desta Nação Hip-Hop 2008. Existem grandes músicas, é verdade, sendo o maior exemplo disso, "À procura da perfeita repetição", do mestre Sam The Kid, completo ensaio na arte de bem compôr e de bem misturar. Mas nem isso, nem o Hip-Hop comercialista dos Da Weasel, nem o toque Reggae-Morangos dos Cool Hipnoise, nem a sensualidade à Gaye de Gutto, nem a brincadeira escondida de um artista maior que isso que é Valete explicam esta nação mal construída. Há mais, bem mais, Hip-Hop em Portugal do que isto.
Título: Nação Hip-Hop 2008
Autor: Vários
Nota: 3/10

Sem comentários: