segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

40.02


Nunca percebi muito bem o problema das referências ou de identificarmos uma banda com outra. Como se fosse ofensivo ou constrangedor, ou mais como se reduzisse de qualquer modo a qualidade da banda ouvida, o simples facto de dizermos que o seu som nos relembra o de outros. Percebo que alguns corram o risco de ser reduzidos pela comparação se para sempre forem perseguidos por ela, tal como acontece a um cantor a solo que se liberta de um banda. Tal como os Pontos Negros eram os novos Strokes portugueses ou David Fonseca se tardou a afirmar como ele próprio e não como o vocalista dos Silence Four. Se o problema é a inexactidão das comparações, convém estabelecer que elas não são gavetas ou etiquetas mas antes factores de ligação musical Se, por outro lado, o problema é uma pretensão de originalidade, desenganem-se. Não existe música nova no vasto mundo Pop-Rock-Indie e nas suas múltiplas (mas quase sempre fictícias) derivações. Todos se recriam e se reutilizam, todos nos mostram as suas influências ou gostos musicais e reproduzem os melhores momentos nas suas músicas. E nós gostamos. Não há mal, portanto, em perceberem-se influências ou referências a outros trabalhos. Especialmente se esses forem bem escolhidos.
No caso de um dos novos hypes da música portuguesa, são. O nome que mais salta à vista (à vista, sim, porque está escrito um pouco por toda a imprensa e blogosfera) é dos Radiohead. O início de "Nortada" é exemplar para percebermos porque o nome vem tanto à baila. Há, em 40.02, a mesma procura da harmonia dos sintetizadores a que a banda de Thom Yorke nos habituou, especialmente no seu último período, o menos rockeiro e mais ambientalista. Há ainda nalguns momentos, como em "A espera é um arame" aquele sentimento épico, que advém da junção perfeita da revolta Rock com o inquietude da Electrónica. Importa pouco que epíteto lhes chamam (Radiohead portugueses é o mais comum). Importa que neles se reconheça intenções semelhantes e procurar de sons em formatos parecidos. E ainda bem que o fazem, porque era tempo de alguém nos proporcionar este tipo de ambiente. Há mais semelhanças, e a maior delas é na forma como 40.02 se constrói num álbum interessantíssimo e coerente. Era uma das surpresas que se estava mesmo a ver que iam acontecer - mesmo antes de Finjo a fazer de conta, feito peixe : avião.
Mas Peixe:Avião é, essencialmente e apesar das comparações internacionais, uma banda portuguesa - mais concretamente de Braga. Nota-se em 2 pontos. O mais fugaz, na forma como encarnam aquilo que muitos esperavam. Desde Ornatos Violeta que se anseia por um som que traga o mesmo ímpeto, o mesmo saber construir ligações entre uma Pop épica e um Rock revoltado em bom português. Peixe:Avião é a resposta mais próxima dos últimos anos a estas preces com o seu som claramente nacional e a sua qualidade completamente pouco comum. O segundo é o mais óbvio, na língua portuguesa. O que não é assim tão óbvio são as letras de Peixe:Avião, tantas vezes a fazer lembrar o melhor surrealismo de GNR, mais interessado na construção imagética que no lirismo ou na repetição bacoca de fórmulas pós-românticas. Há cada vez mais esperança.
Título: 40.02
Autor: Peixe:Avião
Nota: 7/10

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