sábado, 17 de maio de 2008

Diário dos Mortos


De George Romero esperam-se sempre duas coisas: filmes de terror e zombies. Umas vezes os filmes são apenas a mascára que esconde uma metáfora social ou politica, outras vezes não conseguem fugir da carnificina em que o género se tornou. Desta vez, das duas expectativas, apenas uma se concretiza. Zombies há, e com fartura. Para não variar, os mortos deixam de estar mortos e acordam naquele estado sonâmbulo e assassino. Encontrar momentos de terror neste filme é que se torna exercício complicado. George Romero ficou célebre pela forma como criou o zombie moderno e como revestiu o filme de terror de novos significados, fazendo dele uma metáfora. Em Diário dos Mortos, Romero aposta na metáfora - que é mais explicita que implicita - e esquece a parte do terror.
Um grupo de estudantes universitários, a montar um projecto de cinema com um professor, dão por si num mundo em que os mortos acordam como zombies. O cenário não é novo, é certo. Mas Romero percebe isso mesmo e evita explicações ridículas, socorrendo-se da ignorância dos estudantes. Passa directamente à vivência dos mesmos perante essa situação. É um destes jovens que decide pegar numa câmara e filmar todos os acontecimentos que se vão sucedendo à sua volta. E é neste homemade movie que Romero comete os erros mais imperdoáveis e demonstra ao mesmo tempo ser o mestre do género. Usa-o para evitar as parte mais entediantes e menos importantes, mas não se sabe limitar ao género e obriga-se a situações constrangedoras - como a explicação para a música-tipo de filme de terror na fita caseira.
Se é verdade que Romero é um ídolo e um mestre do género, e que em muito influenciou o filme de terror depois dele, não é menos verdade que este Diário dos Mortos demonstra que também ele é influenciável. Blair Witch Project e o recente Cloverfield são referências neste modo de filmar a partir de dentro, sendo que é a Blair Witch Project que se deve a institucionalização do género no filme de terror. Por trás dos zombies, e porque os filmes de terror sempre foram metáforas - e jamais serão outra coisa no pós 9/11 - há a crítica à sociedade mediatizada e há uma visão de uma América enganada, manipulizada e amedrontada que contrasta com uma muito Romeriana visão do que é um zombie. Torna-se fácil demais matar, mesmo quando sabemos que do lado de lá está um homem.

Título: Diário dos Mortos
Realizador: George A. Romero
Elenco: Nick Alachiotis, Matt Birman, George Buza, Joshua Close, Christopher Cordell, Wes Craven, Laura DeCarteret
E.U.A., 2008.
Nota: 5/10

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