sábado, 8 de dezembro de 2007

Promessas Perigosas


Realizador de culto, adorado pela sua coerência e consistência na forma como subverte os cânones gerais da cinematografia contemporânea, David Cronenberg volta a deixar parte deste mesmo culto algo desapontado com o seu novo filme, Promessas Perigosas. O realizador de A Mosca ou eXistenZ, sempre primou por uma visão deturpada da realidade mas que, por isso mesmo, demonstrava mais claramente essa realidade. Mais do que o cinema mainstream de guiões lineares e histórias romanceadas com final previsível. Pelo menos assim pensavam os seus fiéis. Com Uma História de Violência passou-se o mesmo. Para onde se dirige Cronenberg?

Para o mesmo sitio, que é o mesmo que dizer para lado nenhum. A verdade é que não parece haver tão significativa mudança no cinema do realizador canadiano. Cronenberg faz de Promessas Perigosas o que mesmo que fez de eXistenZ. Um objecto artístico assinado. Sem papel para as imitações. Poderão gostar mais da sua atitude de cineasta alternativo do que desta vertente mais linear, mas convenhamos que de Cronenberg este filme tem tudo. Repare-se que não quero com isto dizer que Promessas Perigosas é um excelente filme ou um dos melhores filme de David Cronenberg. Porque o não é. Nenhuma das duas.

Nicolai Luzhin é o motorista de uma família da máfia russa implementada em Londres e que domina o tráfico local, reminescências da irmandade criminal Vory V Zakone. Nicolai, interpretado por Viggo Mortensen, quer subir na família dominada pelo pai, Semyon, e pelo filho, Kiril. Entretanto, uma parteira, Anna Khitrova, vê-se emocionalmente envolvida com uma criança cuja mãe morreu durante o parto. Vendo-se na posse do diário desta, pede ao seu tio russo que o traduza, evento que vai culminar na sua confrontação com a realidade da máfia russa, responsável pela morte da mãe da criança. Anna, Naomi Watts, conhece então Nicolai, com quem manterá uma estranha relação entre o medo e atracção, sempre na dúvida sobre a confiança que nele pode depositar.

Promessas Perigosas é um filme bastante noir onde um mestre da violência, Cronenberg, dá uma lição teórica sobre o bom filmar violento. Pena que a lição só tenha execução prática na exemplar cena da sauna, um momento sublime de realismo e veracidade. Como se quer a violência. Há ainda uma caracterização sistemática dos costumes russos e da mentalidade russa, no fundo tão concisa – mas menos brilhante – como a caracterização italiana em O Padrinho. As comparações entre os dois filmes são inevitáveis, apesar das enorme e inúmeras diferenças. Há, em Promessas Perigosas, o mesmo ambiente verídico e real no filmar da máfia que existe em O Padrinho.

De resto Cronenberg limita-se a cumprir no seu registo muito próprio, resultando num filme de registo duro mas relativamente aprazível, excepção feita a sanguinolentas facadas no olho. Não se trata de um Cronenberg vintage mas de uma história, mais uma, sobre os meandros da máfias. A esta acrescente-se alguns bons momentos, como as tatuagens, o viver russo ou as reviravoltas nem sempre subtis.

Título: Promessas Perigosas
Realizador: David Cronenberg
Elenco: Viggo Mortensen, Naomi Watts, Vincent Cassel e Armin Mueller-Stahl
E.U.A., Reino Unido e Canadá, 2007.

Nota: 7/10

1 comentário:

Porfirio Silva disse...

Eu, que nem sou crítico de cinemas, proponho uma leitura deste filme em Promessas Perigosas, Cronenberg, 2007