sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Third


Nunca esperámos tanto por um disco. Foram mais de dez anos à espera deste terceiro trabalho. Tivemos de tudo. Falsos lançamentos, falsas notícias que testemunhavam o fim do conjunto e adiamentos sucessivos. Contra todas as leis do mercado, os Portishead iam adiando o seu regresso, correndo o risco de cair no esquecimento. Impossível. Aliás, ocorreu o inverso. Celebrizou-se o culto à sua volta. Discutiu-se, e discute-se, se devemos apelidá-los de fundadores ou figura de proa do movimento Trip-Hop. Enquanto isso digeríamos Dummy, o primeiro trabalho, e Portishead, o segundo, e tentávamos perceber quem nos tinha atingido e de onde. Desde então, e em muito devido à ausência de novos trabalhos, tudo se escreveu sobre a banda de Beth Gibbons. Pouco resta definir também sobre o Trip-Hop e a enorme importância que os Portishead - sem esquecer nomes como os Massive Attack - tiveram no movimento. Nada se acrescenta ao louvar, uma vez mais, a voz de Gibbons. Por tudo isto, começávamos a desesperar.
Toda esta espera tem, por outro lado, um factor agravante sobre a expectativa que criámos. Third tinha, à partida, de ser deslumbrante. Não sei se o será, mas é, claramente, um regresso único. Percebendo que, após tanta espera, não poderiam viver de revisitações e que, anos passados, esperava-se uma evolução, os Portishead sintetizam o que de melhor possuem e mostram-no de forma diferente. A soturna e deprimente voz de Gibbons continua igual a si própria. A maquinaria ruminante - terão lido Álvaro de Campos na fase da Ode Triunfal? - está ainda presente, mas a máquina surge cada vez mais nossa, mas fisica, mais compulsiva. A máquina, ou seja, a música mistura-se com os nossos corpos e, por vezes, chega mesmo a possuir-nos. Ora nos enche do seu ritmo mecânico ("We Carry On"), ora nos arrasta nos mais negros pedaçoes de nós próprios ("Plastic"). Por vezes evolui para um estado de tristeza patológico que não conseguimos deixar de julgar sublime, como acontece no extraordinário "Nylon Smile". Mesmo o single "Machine Gun", que julgo não ser dos temas mais conseguidos, arrasta consigo um sentimento de grandeza que somente a banda consegue. Teremos, quem sabe, mais alguns anos para dissecar tudo isto. Quantas audições precisaremos para ter, realmente, ouvido Third?
Título: Third
Autor: Portishead
Nota: 9/10

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