segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Procurado

Baseado numa BD de Mark Millar, Procurado, a primeira incursão do russo Bekmambetov por Hollywood encaixa bem naquilo que o crítico - essa espécie eternamente odiada - gosta de apelidar de filme de verão. Não é por mal. Mas as pessoas parecem provocá-los. Procurado é isso mesmo. Um filme rápido, para não deixar pensar no que se viu, com um único sentido - em frente - mas sem qualquer direcção. Chutar para a frente e correr. Quantas vezes não vimos isto num jogo de futebol? Não que me interpretem mal. Procurado não é um mau filme. De todo. É só mais um filme, em mais um verão. Começa a não chegar.
E, contudo, desta vez as coisas até podiam ter corrido de forma diferente. A adaptação da BD de Millar esquece várias personagens e mantém apenas a trama base, perdendo a oportunidade de enriquecer o filme à custa de uma fiel leitura. Avante. Ao longo do filme, Bekmambetov vai perdendo oportunidades de explorar algo, qualquer coisa no mínimo, para além de acção barata e correrias desenfreadas. Sugere-se, às tantas, a desorientação do personagem principal, mas o russo é incapaz de explorar a profundidade do desnorte do mesmo e atira ao lado no que podia ser uma boa hipótese de moldar uma personagem. O mesmo acontece com as fugazes toadas religiosas que a Fraternidade parece tomar e tem o seu auge na supersónica e incompreensível visita ao local de fundação da mesma Fraternidade. Avante de novo.
Tudo isto escoado, o que sobra? Sobra a história, a velocidade com que tudo acontece e o elenco. Um jovem trabalhador apagado e cinzento, traído pela mulher e pelo melhor amigo, humilhado pela patroa e inconsequente em tudo, descobre ser filho de um famoso assassino, membro de uma ancestral Fraternidade de Assasinos. Aparte a moral barata e mal explorada de que todos podemos ser alguém, Procurado parte desta premissa para seguir a iniciação de Wesley Gibson à instituição e vive totalmente das sequência de acção, claramente pós-Matrix, que se sucedem entre as várias reviravoltas que o filme opera.
Salvação total de todo este emaranhado mal pensado, o elenco de Procurado é sóbrio e demonstra uma experiência que em tudo ajuda a segurar a trama. James McAvoy é rápido e escorreito, deixando-se levar pelas particularidades óbvias da sua personagem principal. Angelina Jolie é sóbria e, espécie de Will Smith feminino, ajusta-se cada vez melhor a estas personagens de heroína dura e seca, com uma ponta de humor. Morgan Freeman é, neste momento, provavelmente o mais experiente actor de Hollywood. Ele é, e pode ser, tudo e todos. É-o aqui, de novo. Não é, portanto, por aqui que o gato vais às filhozes. Não é, também, pela falta de interesse num filme ligeiramente mais sério. Nem é, no fundo, pela irrealidade em que o filme às vezes cai - que a BD sabe desenvencilhar, mas a versão cinematográfica não. É, tão só, o facto de não se ousar. Não foi este o filme que procurámos.

Título: Procurado
Realizador: Timur Bekmambetov
Elenco: James McAvoy, Morgan Freeman, Angelina Jolie, Terence Stamp e Thomas Kretschmann.
E.U.A., 2008.

Nota: 5/10

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